22 de dez. de 2009

Encadernação Japonesa e Chinesa

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*Cuidar do Livro no IG, texto completo! 
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Para o livro chegar à forma que nós conhecemos, passou por uma gradual evolução sempre associada às matérias primas disponíveis.

Para registrar as primeiras formas de expressão gráfica, sabemos das pinturas nas paredes de rocha em locais de encontro e cavernas. À medida em que os sons foram ganhando sinais que os representavam, evoluiu o conjunto de letras do alfabeto. As tentativas iniciais foram feitas em pedaços de argila, depois em tábuas de madeira que até podiam ser ligadas entre si.

Um salto evolutivo importante foi dado 2.200 anos antes de Cristo, com a utilização do miolo do talo de junco, cortado em tiras finas, macerado em vinagre, disposto em fileiras verticais e horizontais sobrepostas e prensadas por dias para que o glúten natural da planta agisse como aderente, para fabricação do papiro. Era então enrolado e guardado numa caixa cilíndrica de couro ou cedro. Foi a primeira técnica de preservação do livro.
Evoluindo e disseminando o livro, os rolos foram ficando mais compridos e de difícil manuseio, até que passaram a ser cortados em folhas,  que eram dobradas e reunidas em grupos de quatro a
seis, costuradas na dobra e protegidas por tábuas de madeira. São as primeiras encadernações própriamente ditas.

No século II, a China começou a produzir papel para escrita com fibras de cânhamo ou de casca de árvore. Segundo os registros da "História do Período Posterior da Dinastia Han" do século V, o marquês TSai Lun (?-125) dos Han do Este (25-220 D.C.) produziu papel a partir de 105 D.C com materiais baratos - casca de árvore, extremidades de cânhamo, farrapos de algodão e redes de pesca rasgadas. Apesar de abundante no Oriente, seu uso para feitura de livros ocidentais só aconteceu séculos depois, por volta de 1.150. Diz-se que, no ano de 751 d.C.,  dois chineses foram aprisionados por árabes e revelaram o segredo da fabricação em troca da liberdade.
Apesar de inventores da mais apropriada forma para registro da expressão gráfica, os chineses não utilizam a tecnica de "encadernação", mas sim a de "blocagem", pois as folhas podem ser juntadas por colagem.

E, mesmo quando reunem as folhas em "cadernos", são amarradas.
Entre a blocagem Japonesa e a Chinesa tradicional existem apenas diferenças muito pequenas, sendo mais evidentes no acabamento da capa do que na estrutura do livro. Como na questão da equidistância dos furos de amarração.
A desvantagem desses sistema de blocagem, seja por amarração ou por colagem, é que as folhas são fatalmente dobradas no manuseio do livro, ao invés de abrirem naturalmente quando devidamente costuradas. Mesmo o papel mais resistente acaba partindo.
Esta técnica pode ter aplicação vantajosa quando usada para álbuns fotográficos, que pedem robustez e durabilidade, feitos de papel com fibras resistentes e média alcalinidade.

A técnica mais rasteira, aplicada atualmente aos livros feitos de folhas soltas impressas em computador, como em registros contábeis, cartórios, monografias, é a de furar as folhas e amarrar. Além da precariedade daestrutura, pois os furos amplos fazem o miolo do livro ficar deformado e cair, a abertura sempre será forçada, comprometendo a integridade do papel.

Logo, o termo "encadernação" não deve ser utilizado para essas técnicas, pois os cadernos não são costurados em cadeia para constituir o livro.

23 de nov. de 2009

Contaminação de Bibliotecas por Agentes Tóxicos

Outros títulos são adequados para esse post:

Uso de Inseticidas em Livros.

Uso de BHC e DDT em Bibliotecas.

Efeitos da Ignorância nos Acervos Culturais.

Incidência de Câncer em Cartorários.

Todos seriam necessários para atrair a atenção dos administradores de acervos públicos e donos de biblioteca para um problema grave e de conseqüências letais para a saúde.
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Fui alertado para a incidência desse problema por Deolinda Taveira, que é conservadora e restauradora de bens culturais em Goiás. Antes disso, tive uma desagradável experiência comprovada quando restaurava os livros do Registro de Imóveis de Paranaguá, sentindo efeitos de intoxicação ao manusear aquele material. Em outros acervos onde atuei, apenas desconfio que estavam contaminados, pois os efeitos foram mínimos. Por trazer os livros ao atelier, não me exponho ao ambiente geral onde estão armazenados.
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Pois Deolinda me convoca para contribuir na solução do dilema de livros contaminados por BHC e DDT, pesticidas largamente usados entres os anos 50 e 70 para combate às pragas na lavoura, na criação animal e até mesmo no ambiente doméstico. Era tido como produto químico salvador e panacéia para todas as pragas. Porém, revelou-se extremamente tóxico e altamente cancerígeno.
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Expor-se a ele superficialmente, causa irritação de mucosas, na pele, com dores de cabeça e vômito.
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Exposição prolongada causa destruição dos tecidos e câncer.
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Deolinda me manda reportagem sobre a Sra. Maria Thereza Böbel, escritora e
historiadora de Santa Catarina, que contraiu câncer ao freqüentar o Arquivo Histórico de Joinvile, onde foi usado BHC e DDT até 1985, para combate às pragas, conforme confirmado pelo Instituto Adolfo Lutz. Pois essa guerreira valorosa soube sobreviver aos danos à sua saúde, sendo culta o suficiente para denunciar o fato. Dezenas de outros freqüentadores e funcionários sentiram os efeitos do envenenamento, até o fechamento da instituição.
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Um trecho da entrevista:
PP - E o Arquivo Histórico, por que fechou?
Maria - Está fechado porque, em setembro de 2002 as moças que trabalham lá passaram mal. O acervo fica na sala de cima, a central de ar estava queimada há muito tempo e não tem servente para fazer a limpeza no local. É um calor terrível lá em cima, tem muito pó. Sem ventilação, as meninas passaram mal e todas apresentaram os mesmos sintomas, como dor de cabeça e vômito. Foram parar no ambulatório da prefeitura e foi constatado intoxicação. Nessa mesma época aconteceu aquele problema no meu exame de sangue, embora eu estivesse afastada porque não estava boa. Foi ai que relacionei a doença ao que estava acontecendo no Arquivo. Com esse fato da intoxicação, surgiu a história de ter veneno lá dentro. Aí meu marido falou: no arquivo tem veneno (BHC). A Vigilância Sanitária lacrou o Arquivo. O laudo do livro mandado para São Paulo constatou que o local está contaminado por BHC e DDT. E os dois são cancerígenos. O médico falou que meu câncer tinha pelo menos quinze anos e eu trabalhei dezoito no Arquivo. O BHC era passado até 1985, para evitar cupim, quando o Arquivo funcionava junto a Biblioteca Pública. Por ordem do antigo diretor, senhor Schneider, um funcionário passava o veneno depois que íamos embora, mas não usava máscara. No outro dia, reclamava de enjôo. O diretor não queria que os livros fossem inutilizados pelos cupins e não tinha idéia do mal que estava fazendo.
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Deolinda pesquisa fundo e me manda também a Reportagem de Paulo Bessa, “Cidade dos Meninos”, leitura obrigatória com informação importante sobre contaminação tóxica, descrevendo a dificuldade para resolver o problema da permanência de BHC, DDT e outros organoclorados em ambientes públicos.
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Vou transcrever aqui, pois ele contextualiza perfeitamente o problema, mas o link está disponível na íntegra:
“É um problema silencioso que afeta gente pobre - as maiores vítimas das incúrias ambientais praticadas diariamente neste país. Os casos de contaminação por poluentes orgânicos persistentes dão poucos dividendos na mídia e não rendem fotos espetaculares em primeiras páginas. Falarei da Cidade dos Meninos no município de Duque de Caxias (RJ). Lá ocorreu uma situação típica, pois mistura uma série de ingredientes que, em conjunto, formam uma tragédia ambiental autêntica. Não aquelas que só existem na mente dos apologistas do fim do mundo, dos modernos cavaleiros do apocalipse. Não são danos imaginários, ou danos à Borboleta Monarca. São danos reais, causados a pessoas reais – Fleisch und Blut - que, por serem pobres e sem maiores apelos para os “radicais chiques”, permaneceram inteiramente desprotegidos por cerca de 50 anos. E, como veremos, mesmo quando uma “solução” se avizinha, ela não deixa de trazer a marca da discriminação que os pobres sofrem nesta Terra Brasilis.
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O caso demonstra, inclusive, que em termos ambientais a solução de problemas em um determinado momento pode ser o próprio problema em outro, o que ressalta a importância de que novos produtos sejam corretamente avaliados. Até o lançamento do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, os organoclorados eram considerados excelentes produtos para combater pragas e insetos, ajudando na redução de doenças e aumentando a produtividade agrícola. Entre aqueles aplicados no combate às pragas, reinava absoluto o DDT. Hoje, o produto está banido graças à Convenção sobre Poluentes Orgânicos Persistentes (POPS) de Estocolmo firmada por 90 países, inclusive o Brasil (1). A ocasião teve como objetivo a proibição de produção e uso de 12 substâncias orgânicas tóxicas (Aldrin, clordano, Mirex, Dieldrin, DDT, dioxinas, furanos, PCBs, Endrin, heptacloro, BHC e toxafeno). No caso da Cidade dos Meninos a contaminação foi devida ao chamado pó de broca.
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A história é a seguinte: entre os anos 1950 e 1962, o Instituto de Malariologia, órgão do então Ministério da Educação e Saúde, operou uma planta industrial para a produção de Hexaclorociclohexano (HCH) e a manipulação de outros compostos organoclorados, como o diclorodifenilcloroetano (DDT) em oito pavilhões pertencentes à Fundação Abrigo Cristo Redentor, na Cidade dos Meninos. A área total é de mais de 19 milhões de metros quadrados. Aqui, cabe uma pausa para que o leitor saiba o porquê da denominação Cidade dos Meninos: tratava-se de um “colégio interno” para crianças pobres, “carentes”, “excluídas” como se diria de uma forma elegante, politicamente correta e à la mode. Como existiam pavilhões desocupados no local, decidiram produzir ali organoclorados. A típica “idéia de jerico”. Algum burocrata da época deve ter achado que seriam diminuídos custos de produção e coisas do gênero. E assim foi feito.
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Como a CPMF, as instalações seriam utilizadas “provisoriamente”. O objetivo do governo era atingir a auto-suficiência na produção de pesticidas para controle de endemias transmitidas por vetores - malária, febre amarela e doença de Chagas. Em função de dificuldades econômicas causadas pelo encarecimento dos custos para a fabricação do HCH, a fábrica foi sendo desativada. De acordo com a mentalidade prevalente na época, nenhum procedimento para encerrar seguramente as atividades produtivas foi adotado. Pelo contrário, a produção remanescente permaneceu estocada ao ar livre nas antigas dependências da fábrica, ou seja, no pátio do colégio.
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Mas - desgraça pouca é bobagem - como sabem todos os “condenados da terra”. Já que a comunidade local era pobre e desinformada, pegou o produto que estava estocado no pátio da antiga fábrica e começou a vendê-lo para faturar uns trocadinhos. Na década de 80, constatou-se que na feira de Caxias, além de tráfico de animais, existia a venda clandestina de pesticida – a produção de pó de broca que ficara abandonada no pátio do orfanato-fábrica. Quando as autoridades públicas se deram conta da questão, em fins da década de 80, ainda sobravam cerca de 40 toneladas de produto tóxico do local para serem retirados. Como manda a regra e a prática administrativa brasileira, criou-se uma comissão e instaram-se infindáveis debates para saber se a questão era federal, estadual ou municipal. Quase 30 anos já tinham passado.
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No ano de 1990, o Ministério Público do Rio de Janeiro, solicitou que o Ministério da Saúde providenciasse a desocupação da área onde se localizava a antiga fábrica. A comunidade local era composta por: menores internos, funcionários da Fundação e do Instituto de Malariologia, que desde 1962 estavam expostos aos produtos tóxicos. Em 1991, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tornou públicos os resultados de estudos clínico-laboratoriais que haviam realizado em 43 adultos e quatro crianças residentes em um raio de 100 metros do local da fábrica, nos quais foram encontrados no sangue dos amostrados níveis 65% superiores à concentração do HCH presente no grupo controle (indivíduos não expostos), porém sem correlação com patologias. Em 1993, o juízo da Infância e da Adolescência de Duque de Caxias determinou a interdição das atividades da Fundação Abrigo Cristo Redentor e a imediata remoção dos menores. Em 1996 a Fundação teve suas atividades encerradas. Isso, entretanto, não significou a total retirada de pessoas da área, pois muitos antigos funcionários permaneceram no local e lá estão até hoje.
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No dia 8 de setembro de 1993 foi firmado Termo de Compromisso de Ajustamento de Condutas e de Obrigações (TAC) entre o Ministério Público Federal, o Ministério da Saúde, o Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (Feema), a Legião Brasileira de Assistência, a Fiocruz, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e a prefeitura de Duque de Caxias. Mas o TAC, ao que parece, não conseguiu solucionar o problema mais grave: a contínua ocupação do local e, conseqüentemente, o estado contínuo de risco de contaminação.
A Cidade dos Meninos tem uma população residente em imóveis pertencentes à União de 1.346 pessoas, constituindo 382 famílias, compostas principalmente por funcionários da ativa e aposentados do Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS (ou órgãos já extintos) e seus familiares. Somente em 1995 deu-se início a um processo de descontaminação do solo. Apesar disso, não foi eficaz, como reconhecido pelo próprio Ministério da Saúde (2). “Subseqüentemente à tentativa de remediação com cal, constatou-se, por meio de alguns estudos que analisaram amostras do solo local, que a referida tentativa não foi eficaz para promover a remediação e que, inadvertidamente, acabou resultando na formação de outras substâncias tóxicas decorrentes de reações químicas dos compostos organoclorados com cal”. Cabe a pergunta: havia condição de prever o resultado das reações químicas que seriam geradas pela remediação?
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No ano de 1997 foi proposta uma ação civil pública em face da União Federal, buscando dar uma solução judicial para o problema. Em função da Ação Civil Pública nº 97.0104992-6, movida pela Procuradora da República Geisa de Assis Rodrigues, em tramitação perante a MM 7ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, o Poder Executivo encaminhou ao Legislativo o Projeto de Lei nº 3034/2004 (3) - sete anos após a propositura da ação - que “autoriza a União a conceder indenização por danos morais aos ocupantes de imóveis residenciais a ela pertencentes, na localidade denominada “Cidade dos Meninos“, que tenham sido expostos a compostos organoclorados”. O PL foi encaminhado aos 02/03/2004, estando há mais de um ano parado na Comissão de Trabalho e Serviço Público da Câmara dos Deputados. Espera-se que o relator acelere as providências para a aprovação final do PL.
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O ministro da Saúde Humberto Costa, em atitude de coragem cívica pouco vista nos administradores brasileiros, expressamente reconhece que: “a área ocupada é de propriedade da União, inexistindo qualquer título de posse que garanta a sua ocupação pelos moradores, sendo certo, ainda, que eventual ação de reintegração de posse implicará em demorado processo judicial que só iria agravar a situação dos habitantes da Cidade dos Meninos, uma vez que estariam expostos aos compostos organoclorados por tempo demasiadamente indefinido. Em outra vertente, mesmo que sejam adotadas medidas judiciais visando à desocupação da área, o argumento de que a permanência das pessoas na região apresenta risco à saúde, iria ocasionar a incômoda situação de colocar ao desabrigo mais de 1.300 pessoas. Em outras palavras, além da exposição aos compostos organoclorados, os moradores também ficariam desabrigados. Os estudos existentes são suficientes para se concluir que a contaminação ambiental em Cidade dos Meninos é extensa, tendo sido a área foco principal a fonte de contaminação por pesticidas que hoje se encontram dispersos na região, tornando a área de risco para a saúde humana e que as evidências da existência atual de vias de exposição humana às substâncias tóxicas, agravadas pelas características de ocupação rural da região e o modo de vida da população, recomendam providências no sentido de viabilizar a retirada dos moradores da forma menos traumática possível. Para alcançar esse desiderato, afigura-se mister e imperioso que os moradores da Cidade dos Meninos, que estiveram expostos aos compostos organoclorados, sejam indenizados pelos possíveis efeitos deletérios a sua saúde. Ainda que inexista qualquer responsabilidade da União em custear novas moradias aos habitantes da Cidade dos Meninos, a responsabilidade do Governo Federal emerge do fato de ter abandonado, sem as devidas precauções, toneladas de produtos organoclorados ao ar livre, sem que tomasse as necessárias providências para que o produto não fosse livremente manuseado por pessoas desavisadas. (4)”
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Os valores indenizatórios cogitados pelo PL, embora não sejam irrisórios, não chegam a admirar em razão da duração e da extensão do problema e de suas conseqüências para a população local. Há a previsão de R$ 10.000,00 por indivíduo, com um mínimo de R$ 50.000,00 por família. Trago o seguinte dado para reflexão: O jornal Folha de São Paulo, edição de 20 de março de 2005, demonstra que o valor médio das indenizações pagas a título de anistia política para os anistiados é de R$ 313.000,00, valor bem superior ao proposto no PL.”
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Uma reportagem ilustra a presença dos pesticidas no cotidiano.
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Artes
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Sexta-feira, 24 de julho de 2009
Dois séculos de memória
O cheiro de BHC exala com força quando o livro contábil de um antigo cartório da cidade é aberto sobre balcão para uma consulta corriqueira. Quantas vezes o volume de 80 por 40 centímetros e uns 10 quilos de peso, com capas duras de papelão e cantoneiras de metal já não foi aberto desde 1932, (aqui há um erro na reportagem, pois esses livros são regularmente consultados) quando suas anotações foram postas ali, e o cheiro do veneno agrícola que hoje nem mais é permitido no Brasil ainda pega muita gente desprevenida coçando o nariz? Bastava um filetinho no centro do calhamaço que fungo algum prosperaria entre as páginas recobertas com tinta nanquim, cuidadosamente preenchidas numa caligrafia tão cuidadosa e simétrica que parece ter saído de uma aula de educação artística.
O livro de escrituras fiscais não é o mais antigo nem o mais interessante. É apenas um entre os quase 200 mil documentos que atualmente compõem o acervo do Arquivo Histórico Municipal de Franca "Capitão Hipólito Antônio Pinheiro" e que hoje completa 20 anos de criação.
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Existem outras e mais referências que tem contribuído para o esclarecimento da população e para a tomada de atitude de todos os responsáveis pelos acervos públicos e particulares, como o material da Universidade Federal Fluminense, publicado na Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente.
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A minha resposta a Deolinda, para solução do problema prático, foi a seguinte:
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É doloroso saber da amplitude do problema. A ignorância ou a questão econômica agrária acima do bem estar da população, que reinava nos anos 60 e 70, é injustificável. Mas lamento informar que outros defensivos estão sendo usados neste momento por todo lugar. Tão danosos à saude humana e inúteis no combate às pragas quanto o BHC e DDT. São os piretróides e organoclorados conhecidos como K-Otrine, Bolfo, Audrex, vendidos livremente em qualquer lugar e largamente usados. Talvez eficientes no combate a pragas que atacam animais e próprios para uso em ambientes laváveis, são inúteis contra pragas de biblioteca e seu efeito tóxico residual tem duração indefinida. É como usar metralhadora para matar mosca: os efeitos colaterais são inexoráveis.
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A maior praga ainda é a intervenção humana desastrosa. Quando guardamos livros em ambientes inóspitos, utilizamos produtos tóxicos e manuseamos sem critério, causamos danos maiores do que qualquer cupim.
Somente limpeza protege livro.

Ainda defendo o seguinte processo:
1-Retirar os livros do ambiente contaminado, pois é no ambiente e nas instalações que está a maior quantidade de resíduos tóxicos.
2-Lavar, restaurar, substituir o madeiramento ou voltar a armazenar os livros em outro local de alvenaria e azulejo, arejado e iluminado.
3-Aspirar a poeira e resíduos superficiais dos livros.
4-Selecionar os livros por seu valor histórico/estético.
5-Separar o acervo pelo estado de conservação, em grupos, classificando-os pelo tipo de agente causador (umidade, praga biológica, contaminação tóxica, fragmentação, etc).
6-Eleger os livros representativos que serão preservados para consulta e manuseio.
7-Reencadernar estes exemplares, sempre em ambiente arejado e amplo, com proteção para as mãos e rosto. Separar capa de miolo. Refazer a capa, ou restaurar se possível, sempre preservando cararteristicas da capa original, como etiquetas e marcas de fabricante. Limpar as folhas com trincha e pó de borracha de apagar.Consertar as folhas do miolo, usando materiais e colas alcalinas. Recosturar o miolo, reforçar a lombada, lixar e pintar ou (em ultimo e extremo caso) refilar as laterais.
8-Apenas limpar e higienizar outros livros de menor interesse ou extremamente comprometidos, para serem guardados em embalagens plásticas individuais e manuseados somente com a proteção adequada por pessoal técnico treinado.
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É necessário trabalhar ao ar livre ou em ambiente sob exaustores que eliminem rapidamente o pó.
Vê-se que a tarefa demanda recursos e muita mão de obra qualificada. Não compreendo a atitude de administradores públicos e titulares de cartório que NÃO TEM NEM O CUIDADO DE ATENDER SEQUER AOS PRIMEIROS TRES ITENS ACIMA. 
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Como digo sempre, "pode jogar fora esses computadores, essa decoração, esses balcões. Só os livros são insubstituíveis, pois contém a história dinâmica de nossa sociedade e são documentos públicos sobre os quais vocês têm toda responsabilidade",

18 de nov. de 2009

O LIVRO DILACERADO

 Não costumo criticar o trabalho dos outros encadernadores. Criticar é opinar sobre o trabalho alheio e apontar falhas a corrigir. Disfarçado de um vago princípio ético, meu silêncio é o desejo de que façam o pior trabalho possível, pois, quanto pior a concorrência, maior a valorização do meu trabalho.
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Além do mais, são pessoas normalmente sem maior instrução, jamais tendo lido os livros que encadernam, sem compreender o verdadeiro valor do objeto livro.
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A Tristeza é que até conhecem as mínimas técnicas corretas, mas nunca as utilizam, a não ser que o cliente exija claramente como deseja que seu livro seja tratado. Em todos os casos, encadernam com o menor custo e o menor trabalho possível.
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Mas é impossível calar ao me deparar com certos trabalhos.
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Hoje mesmo, um pobre e mutilado livro chegou às minhas mãos. É um livro de Registro de Casamentos de cartório, preenchido no ano de 1952. Mede cerca de 48 centímetros de altura, por 32 centímetros de largura e cerca de 9 centímetros de espessura nas suas trezentas folhas.
Considerando a boa qualidade do papel importado daquela época e seu intenso manuseio, podia estar em estado razoável de conservação. Normalmente, gosto de trabalhar com o material dessa época, principalmente se nunca sofreu nenhuma interferência anterior.
O processo é o de sempre, consertando todos os rasgões com papel de seda, reforçando as dobras das folhas para recosturar.
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Mas, esse pobre livro sofreu dilacerações irrecuperáveis. Um encadernador (LH Encadernações, quando ainda era ali na Alferes Poli, em Curitiba) cometeu seu trabalho bem recentemente, há uns dois anos, no máximo. Eu sei por ter estado lá e visto. Pedi que fizessem da forma correta, mas disseram que dava muito trabalho.
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Como as dobras das folhas estavam bem desgastadas, o livro foi GUILHOTINADO bem no seu lado esquerdo, tornando únicas as grandes folhas dobradas que formam um caderno.
Em seguida, a margem esquerda foi FURADA. Como se não bastasse, errou o primeiro furo, que ficou muito perto da borda, tendo furado de novo. A seguir, simplesmente AMARROU as folhas soltas.
O que era um LIVRO composto de CADERNOS, virou um BLOCO de folhas soltas.
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Quanto às folhas internas, nenhuma delas foi consertada ou restaurada. Minto! Algumas que estavam muito rasgadas receberam FITA DUREX.
É o pior que se faz com um documento público!
A fita plástica auto-colante é extremamente ácida.
É impossível retirá-la quando recente, sem prejudicar o texto.
No curto prazo, escurece.
Se é de qualidade razoável apenas seca com o tempo e se solta. Se é barata, torna-se gosmenta.
Todos os tipos enrolam e deformam o papel.
Deixam a fibra do local ressecada e quebradiça.
Não bastando esse erro, sequer tiveram o cuidado de pelo menos escolher o lado da folha que não tivesse nada escrito. Foram colando a fita durex sem nenhum critério e de forma abundante.
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A capa já estava inteiramente destruída. Foi feita com papelão reciclado poroso e mole, de péssima qualidade, coberto de vulcapel, que é um plástico fino com forro de papel 56 gramas, que não se presta nem mesmo para livros formato ofício. Não havia reforço interno e estava presa ao miolo apenas por um tecido colado à lombada.
Na primeira vez em que foi colocado em pé, deve ter cedido ao peso do livro.
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Como encadernar um livro tão mutilado?
Refazer os cadernos, colando a folha um à folha doze, a folha dois à folha onze, sucessivamente, juntando-as com uma tira de papel o mais fina possível, considerando a grossura e o peso da folha.
O problema é que são trezentas folhas, sendo necessário usar cento e cinquenta tiras que depois serão dobradas. O volume resultante da colagem das tiras causa uma diferença de uns quatro centímetros entre a lombada e a espessura normal do livro. Ou seja, a metade de sua espessura.
A lombada fica muito mais grossa, forçando o livro a sempre ficar entreaberto, facilitando a penetração de sujeira e entrada de umidade.
Deixar o livro assim? O problema é que a abertura do livro vai ser forçada, pois a área do papel ao longo da lombada já apresenta rachaduras. É um livro velho e o papel já está seco, com o mínimo uso as folhas vão se partir longitudinalmente.
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De qualquer forma, vai demandar muito trabalho.
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Quando insisto no estabelecimento de Normas Técnicas para Encadernação de Livros e Documentos Públicos (veja Página), meu objetivo é estabelecer padrões para todos os encadernadores, um critério para julgar um trabalho, até mesmo responsabilizar o profissional que cometa um crime semelhante ao que foi perpetrado nesse livro. O responsável final, o titular do cartório, teria como exigir que a técnica correta fosse usada.
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Naquele dia, há dois anos atrás, quando testemunhei a desatrosa interfência nesse mesmo livro, meu primeiro impulso foi evitar a tragédia, arrancar das mãos inconseqüentes daqueles pobres encadernadores e sair correndo. Contive. Racionalizei que cada um tem o livro que merece. Que a corregedoria não está nem aí para esses detalhes. Que minhas preocupações devem ser psicopatias, reações anormais que ninguém vai entender. Então, senti um arrepio e soube com certeza que um dia aquele livro estaria em minhas mãos, para que eu salvasse o que fosse possível. E ia dar muito trabalho.
A profecia foi cumprida.
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Outro livro a mesma época, com as folhas intactas.
 

21 de out. de 2009

BEM VINDO O E.BOOK


Com a abertura do Kindle
e a anunciada livraria on-line do Google,
editores acham que o sucesso do formato é questão de tempo.
Frankfurt - O inglês Richard Charkin, diretor executivo da editora Bloomsbury, é um homem bonachão, que arranca gargalhadas com quase tudo o que fala. Du­­rante um encontro sobre o futuro do e-book (que atraiu o dobro de pessoas em relação à capacidade do espaço designado pelos organizadores da Feira de Frank­furt), ele conseguiu ser sério pelo menos uma vez: “Neste Natal, duvido que alguém vá gostar de receber um livro eletrônico, preferindo ainda o formato no pa­­pel. Mas não sei como será no pró­­ximo ano.”
Como era esperado, o livro di­­gital atraiu pequenas multidões quando foi discutido. E o encontro sobre o tema em Frankfurt re­­­cebeu um upgrade com o anún­­cio da empresa Google, que planeja lançar uma loja on-line de livros eletrônicos de qualquer dispositivo com um navegador da web, amea­­­­çando o crescente mercado de leitores dominado pelo Kin­dle, da Amazon. O projeto pretende lançar edições no primeiro semestre do próximo ano, oferecendo inicialmente cerca de meio milhão de e-books em parceria com as editoras com as quais já negociou os direitos digitais. “Não estamos focados em apenas um tipo de suporte eletrônico”, disse Tom Turvey, diretor de Parcerias Estratégicas do Google, em uma coletiva de im­­prensa em Frankfurt.

Os boatos sobre uma loja eletrônica de livros by Google eram antigos e persistentes, e cresciam à mesma velocidade com que a Amazon vendia seus aparelhos Kindle. Mas o que a empresa anunciou é bem diferente do modelo de negócios que turbinou as vendas do Kindle e de outros aparelhos do gênero, como os leitores da Sony. Os livros vendidos pelo Google não serão copiados para o dispositivo do usuário, mas serão mantidos na internet – “na nuvem”, para usar o conceito da moda, o cloud computing.
O que estará à venda é o direito de acesso ao livro, não o arquivo em si.

Isso significa que eles poderão ser lidos não apenas por dispositivos especiais de leitura, mas por qualquer máquina equipada com um browser para acesso à rede. Pode ser um leitor de ebooks, mas também um celular, um notebook ou tablet, um desktop e até a sua geladeira (desde que ela rode o Explorer, Firefox, Safari, Chrome ou outros do gênero). Por isso o anúncio provocou tanto frisson. Se dispositivos como o Kindle colocavam em xeque o gigantismo das bibliotecas, já que um único aparelho poderia armazenar centenas de exemplares, a novidade é uma ameaça até para essas maquininhas. Está, portanto, cada vez mais difícil prever o futuro da indústria editorial.

O anúncio veio uma semana depois de a Amazon ter confirmado que vai liberar o uso do Kin­dle para mais de cem países além dos Estados Unidos, elevando sua posição de liderança em um mercado pequeno, mas de crescimento rápido, em que os seus concorrentes incluem o Sony e-Reader. “São decisões importantes, pois o consumidor ainda não sabe como escolher”, comentou Ronald Schild, diretor da empresa de marketing MVB, que participou do debate ao lado de Richard Charkin. Mas, ele acredita que a indecisão logo vai terminar. “Hoje, com nossa rotina dominada por aparelhos eletrônicos, as pessoas leem mais textos em meios eletrônicos do que em papel”, observou Andrew Savicas, vice-presidente da O’Reilly Media, editora norte-americana cujo fundador, Tom O’Reilly, cravou o termo Web 2.0.

Direitos autorais

Os números confirmam uma leve transferência para o mercado editorial – segundo a empresa de pesquisas Forrester, cerca de 3 milhões de leitores digitais serão vendidos nos Estados Unidos, contra uma previsão inicial de um milhão, um au­­mento favorecido por preços mais baixos, va­­riação no conteúdo e melhor dis­­tribuição. O problema mais crucial continua sendo a discussão sobre direitos autorais. Contra as reclamações de que vai disponibilizar livros fora de catálogo mas cujos direitos ainda persistem, o Google rebateu, afirmando que a versão eletrônica abrirá novas possibilidades comerciais para a obra. “Esse assunto é o mais delicado nessa história”, co­­mentou a agente literária Lúcia Riff.

Apesar de o mercado brasileiro ainda estar ligeiramente distante do mundo digital, ela contou que já acrescenta adendos aos contratos de seus autores (e ela edita escritores do naipe de Luis Fernando Verissimo) in­­cluindo o formato e-book. “É preciso fazer uma adaptação, ainda com o mercado incerto.”

Finalmente no Brasil, acesso ilimitado ao e.book apple.
Os e.books estão se espalhando pelo mundo. Festejemos!

É um leitor elêtronico de textos, um objeto que acompanha o tamanho padrão de um livro, tem tela sensível ao toque e conexão sem fio. Poderemos pagar uma assinatura de jornal e receber as notícias diariamente, poderemos ler livros on-line ou baixar, tudo através de assinaturas e adesões, é claro.
Pouquíssimos os questionamentos contra o sistema. Um deles é que o livro que você compra pode, de repente, sumir de sua biblioteca virtual pessoal, como o caso envolvendo obras de H. G. Wells, onde o herdeiro retirou os direitos do Google e deixaram de estar disponíveis. Mas esse foi caso isolado. Com a entrada da Barnes & Noble, com a disseminação da Apple por outros países, quase duzentos mil títulos estarão disponíveis. Portanto, sejamos receptivos ao sistema.

Qual a lógica que leva um encadernador clássico ao dar a mais calorosa e sincera Boas Vindas ao novo artefato tecnológico que permite leitura de milhares de livros?
Vamos poder reduzir bastante o enorme desperdício de papel!
A pobre Indústria Gráfica mundial tem critérios estranhos quando edita um livro. Se o autor vende bem, os livros são impressos com fontes enormes e espaços desproporcionais entre as linhas e entre os parágrafos, resultando em livros com quase mil folhas. Se o autor é desconhecido ou vai vender com dificuldade, as fontes são pelo menos quatro pontos menores e é grande a economia de papel. A indústria não pensa em vender bons livros a bom preço, mas em empurrar livros enormes de autores populares a preço alto.
Se a impressão é direcionada, o material e a encadernação atendem ao princípio da rápida obsolescência, pois o autor popular que vende bem é fenômeno passageiro que deve ser aproveitado antes de ser esquecido. Logo, o livro não precisa ser durável. É feito de papel de alta acidez e baixo custo, com estrutura de encadernação que mal resiste à primeira leitura. A capa é normalmente de papel couchet 180 gramas, altamente perecível e deformável, contendo ilustração que vai da mera cópia do original estrangeiro ou é simplesmente óbvia, com papel apenas informativo ou publicitário, sem acrescentar à obra qualquer valor ou elemento.
Na atualidade, o livro é:
1) uma forma de entretenimento saudável e proveitosa;
2) um recurso indispensável aos estudantes;
3) um recurso indispensável aos profissionais e intelectuais.
Em todas as hipóteses, o livro é meramente um meio para atingir um determinado fim. Alcançado o objetivo, é descartado.
Os casos em que o livro obtido é guardado como uma preciosidade, por pessoas que gostam do objeto em si, são raros.
Convenhamos, guardar os livros perecíveis editados hoje em dia é um desafio.
Principalmente para centenas de edições absolutamente efêmeras , o ebook é uma solução ecologicamente correta e de uma praticidade sem paralelo.
Por exemplo, os Vade Mecum - publicações de cunho juridico trazendo todo o transitório conjunto de Códigos - que são livros enormes (com 1.837 folhas na 7a. edição, de 2009, da Saraiva) ficam desatualizados em menos de um ano e precisam ser substituídos por todos os advogados e estudantes de Direto do País. É um horror. Se pelo menos esse livro estivesse disponível em ebook, milhares de pessoas ficariam gratas. Por uma assinatura razoável, teriam acesso a informações atualizadas on-line.
Este e muitos outros, prestam-se a estar disponíveis em ebook. Milhões de árvores serão salvas no processo, mais o prejuízo ambiental da fabricação do papel e da tinta.
E, como conseqüência final, as editoras vão precisar
fazer livros melhores que vale a pena comprar.
Antes de qualquer coisa, respeito muito o papel e acho que é um recurso tão precioso que deve ser destinado apenas a obras de longa vida. Obras de algum valor, seja documental, literário ou pessoal.
Além do mais, um livro tradicional não consome energia;
está sempre ali, à mão;
permite anotações pessoais;
não é ambicionado pelos ladrões;
pode ser emprestado ou trocado;
você pode dar de presente ou doar a quem não pode comprar;
é inteiramente e só seu!
Compre já o seu ebook, para ler as deliciosas porcarias do Crepúsculo, ou do Stephen King e de tantos outros, absolutamente indispensáveis para desopilar a cabeça, mas tão frívolos que não fazem a menor falta na biblioteca e todo e qualquer livro descartável que você seja obrigado a adquirir.

12 de set. de 2009

Minhas Encadernações em Estilo Clássico












Estes são alguns de meus trabalhos. A técnica é a mais clássica possível, dentro das limitações de orçamento dos clientes e de materiais atualmente disponíveis no mercado.
Quase todos são no formato "lombada e cantos de couro, com espelho de monotipia em tela", todos restaurados e costurados, sem refilamento das laterais.
Os papéis e telas marmorizadas são de minha autoria.
Contudo, um livro velho é muito bonito, com o sinal do tempo passado sobre ele, indicando o quanto foi lido, transportado, guardado, preservado, maltratado. Este, por exemplo, nunca tive coragem de "restaurar", seria a mesma coisa que... se meu avô tivesse 20 e poucos anos! É um dilema!

Zelina Castello Branco


Lá por 1982, despertou meu interesse por encadernação. Minha livraiada (tão poucos para ser considerado biblioteca) estava em péssimo estado, com as capas soltando, as costuras rotas e as páginas sujas. Comprados já usados, herdados de familia ou comprados de livraria, pediam socorro. Os primeiros sairam toscos, eficientes mas horrendos. Então o Gino da antiga livraria de usados Guttemberg, o Salim ex-presidente de sindicato de indústrias de papel e dono de uma maravilhosa coleção de livros, e Chaim, o da livraria mesmo, me deram o livro de Zelina Castello Branco.

Foi uma descoberta atrás da outra. Direta e didática, me deu as primeiras instruções, junto com muita tentativa e erro de minha parte, mais pesquisa e prática, fui desenvolvendo minha própria técnica, sempre mais orgulhoso por reviver detalhes da verdadeira encadernação clássica do que por inventar novos métodos. Quando me deparava com algum impasse, imaginava o que Zelina faria. Quando terminava um livro, imaginava qual seria a avaliação de Zelina. Afinal, muitos dos grandes mestres da encadernação eram mulheres, como Santa Wiborada.

Tornou-se de fato minha mestra.

Era titular da “Leart – Livraria e Encadernação”, é viúva do escritor, jornalista e bibliófilo Carlos Heitor Castello Branco, um expert em livros. Instalada no bairro de Pinheiros, em São Paulo, com um catálogo de livros que alegravam o mais exigente dos colecionadores que a visitam para pesquisa de raridades. Hoje com 86 anos, está em "inquieta aposentadoria".

Um dia desses, fui às nuvens quando me telefonou. Fiquei muito honrado com sua atenção ao meu trabalho e apaixonado por essa mulher fascinante.

Atualizar a vida é preciso.

No dia 11 de Maio de 2015, faleceu Zelina Castello Branco, mulher valente e criativa que deixou o mais digno e puro trabalho de Encadernação Clássica que já aconteceu no Brasil.

Foram 101 anos de vida inspiradora e produtiva.


Como ficou meu exemplar do Livro "Encadernação", de Zelina Castello Branco.

Esse Link leva ao catálogo de livros da Le Art.

Dicas Para Conservação de Livros

Livro é um objeto frágil.
O prosaico ato de ler já contribui para sua deterioração, graças à precariedade da indústria gráfica e a falta de padrões dos editores. Começando pela análise do papel, normalmente é de baixa qualidade, comprovável pela alta porosidade causada pela economia de agente agregador da massa de celulose, resultando em evaporação acelerada e pouca resistência à umidade e fungos. Fazem grande economia de margens, tanto nas bordas internas quanto nas externas, resultando que o leitor tem que forçar a abertura e assim deforme o livro. As colas usadas são de alta acidez, soltando-se e ficando quebradiças já na primeira leitura.
As capas são precárias. Enrolam para fora e soltam-se do miolo do livro, sem mencionar que aquelas bonitas letras douradas dos livros do Harry Potter e da série Crepúsculo somem em pouco tempo por força da fricção.
Para mitigar um pouco o sofrimento deles, passo umas dicas de conservação.
FUNGOS EM LIVROS DE COURO
Limpe o couro com um pano umedecido em detergente multi-uso diluído 50/50, em seguida friccione o remédio VODOL líquido ou creme. A receita serve para qualquer objeto de couro.
HIDRATAÇÃO DO COURO
LImpe o couro da mesma forma acima, depois use hidratante normal, tipo Vasenol, Nívea, etc., passando com uma esponja ou um pedaço de pano limpo. Se tiver sinais de fungo, acrescente Vodol creme ou líquido e hidrate com essa mistura.
LAVANDO O LIVRO
Se comprou um livro no sebo, ou se emprestou para alguém e voltou sujo, ou se emprestou um livro sujo de alguém, ou seus livros estão sujos mesmo, pode lavar as capas que sejam plastificadas ou de papel couchet. Use detergente multi-uso dliluído 50/50, mergulhe o pano no recipiente, torça bem e esfregue rapidamente até tirar toda a gordura e sujeira da capa. Pode passar de leve no alto das folhas se estiverem muito sujas. Em seguida passe um pano seco e limpo. Aqueles livros de capa dura do Clube do Livro são inteiramente laváveis. Siga sempre mergulhando o pano na solução de detergente e torcendo bem.
PASSANDO CERA DE ABELHA
Se há um elemento inestimável para conservação de livros, é a bendita cera de abelha. Possui incríveis propriedades anti-fungo e anti-mofo, também mantendo distante cupins, traças e brocas. Uso principamente para encerar os fios de costura do livro. Mas também pode ser usada com sucesso para:
1) esfregar em manchas de fungo e mofo das folhas;
2) esfregar na parte superior das folhas com livro bem fechado;
3) encerar as capas de livros antigos, garantindo às folhas ressecadas e porosas um pouco de proteção.
Vale a pena passar numa loja de material de construção, daquelas antigas onde tem de tudo, e comprar umas gramas de cera. É muito barato e dura muito tempo. Se tem casa algum objeto de madeira com aquela cultura de fungo verde, lave e passe a cera. Fica livre do fungo e bonito.

27 de ago. de 2009

Etimologia e Bibliologia


“ENCADERNAÇÃO” – ETIMOLOGIA
Lendo sobre encadernação, história e técnica, conclui que a palavra pode ter origem no velho espanhol influenciado pela cultura árabe, pois essa arte foi introduzida na Europa pela Península Ibérica, durante os séculos de dominação árabe. Assim, pode derivar-se de “encadeñar” ou encadejar, como em dispor em cadeias sucessivas, conforme o Dicionário Moraes digitalizado pela BRASILIANA.
Por associação, pode ser derivada de cadernos, ou “quaternos” dos antigos “in-fólios”. Esclarecendo, antigamente tomava-se uma folha provavelmente tamanho 96 X 66 cm, dobrava-se duas vezes formando quatro folhas ou UM CADERNO, mais outra e mais outra, que eram costuradas pelas dobras formando um livro, ou seja, encadernadas ou COSTURANDO OS CADERNOS .
Encontrei explicação plausível num livro publicado por ocasião do IIº Congresso da Indústria Gráfica Argentina:
"Ya se ha visto que la palabra "encadernacion" proviene de encuaternar (poner de a cuatro os cuadernillos impressos e coserlos. " (LA HISTORIA GENERAL DEL LIBRO IMPRESSO, Raul M. Rosarivo, Ediciones Áureas, página 201, Buenos Aires, Argentina, 1964)
Citar Raul M. Rosarivo é suficiente para encerrar a questão etimológica. O homem foi importante desenhista, professor, escritor, pesquisador das artes gráficas, pintor e bibliófilo argentino, com sólida obra sobre artes gráficas e bibliologia.
Buscando auxílio dos dicionários, o mais simples diz que é “formar cadernos”. O velho dicionário Moraes me afirmou que é derivado de “cadeñas” mesmo e do espanhol. Há até uma semelhança fonética que remete à livre associação com o Porto de Cádiz, principal ponto de entrada para os navios árabes, mas aí já é especular demais. Um blog de encadernação afirma que "encadernar significa fazer, amarrar ou segurar (em latim é ligare)", coisa que não tem nada a ver, mas está assim no sitio de encadernação e restauro.
Uma nota curiosa encontrada nesse mesmo livro, informa que o costume de pintar de vermelho os cantos dos livros começou com os monges medievais decorando as laterais em recordação ao sangue dos mártires cristãos. Esse Rosarivo...
Já que estamos nesse assunto etimológico permeado de curiosidade, são muitas as variações possíveis com a raiz grega "biblos" (livro), aplicadas desde a quem coleciona até a quem depreda, sem contar aquelas mais usuais, como "biblioteca":

Bibliófilo: que ama os livros
Bibliocasta: que destrói livros
Biblioclepto: ladrão de livros
Bibliótafo: que esconde os livros
Bibliófago: comedor de livros
Bibliófobo: que odeia livros
Bibliólotra: que idolatra livros
Bibliomanta: que pratica adivinhação ao abrir um livro ao acaso e interpretar a primeira linha
Biblioterapia: cura por meio da leitura
Bibliópola: vendedor de livros
Biblióforo: que carrega livros
Bibliomaníaco: que tem atração mórbida por livros

E por aí afora, sem falar nos Bibliocidas, aqueles que encadernam livros, destruindo a obra no processo, vide outros posts neste espaço.

12 de ago. de 2009

Conservação - Manuseando Livros

Os critérios para manusear um livro são determinantes para uma maior vida útil e de sua permanência no acervo. Recomenda-se portanto, a adoção de normas e procedimentos básicos, como por exemplo o treinamento de pessoal, que contribui consideravelmente para a conservação preventiva do acervo, seja pequeno e estimado ou grande e inestimável.

♦ Não manusear livros ou documentos com as mãos sujas, lavando as mãos após cada refeição.
♦ Não manter plantas aquáticas, guarda-chuvas e capas molhadas junto às prateleiras.
♦ Em dias muito úmidos, evitar abrir as janelas.
♦ Não fumar nem consumir alimentos perto dos livros.
♦ Não usar fitas adesivas, durex de qualquer tipo, colas plásticas, grampos ou clipes metálicos nas folhas e documentos guardados nos livros.
♦ Não dobrar os cantos das páginas (orelhas), pois ocasiona o amolecimento e rompimento das fibras. Nunca virar as páginas segurando pelos cantos.
♦ Usar marcadores próprios, finos, evitando efetuar marcas e dobras.
♦ Não retirar o livro da estante puxando-o pela borda superior da lombada.
♦ Os livros devem permanecer em posição vertical. Nunca acondicioná-los com a lombada para baixo ou para cima.
♦ Nunca manter as estantes campactadas.
♦ Fazer o transporte dos livros individualmente.
♦ Nunca umedecer os dedos para virar as páginas do livro. O ideal é virar pela parte superior da folha, procurando a página e abrindo todas as folhas de uma só vez.
♦ Não apoiar os cotovelos sobre os volumes de grande porte durante a leitura.
♦ Não fazer anotações, particulares ou profissionais, em papéis avulsos e colocá-los entre as páginas de um livro. Eles deixam marcas e permitem a penetração de sujeira e umidade.
♦ Evitar forçar a abertura para tirar cópias de livros. Esta prática danifica não só a encadernação como também o papel.
♦ Não utilizar espanador e produtos químicos para a limpeza do acervo e a área física da biblioteca, use trincha em local afastado das estantes. Para evitar a distribuição de poeira sobre os volumes, o piso deverá ser limpo com pano úmido.

A ilustração do "Livro Monstro de Harry Potter"?

Ora, o segredo para o livro não morder é sempre tratá-lo com carinho.

4 de ago. de 2009

Cupins e Brocas na Biblioteca


O post anterior "Conservação de Livros - Pragas Comuns" abordou de modo genérico as principais pragas que atacam os livros e a madeira da biblioteca. Para o livro infestado por alguma dessas pragas, a solução é abordar um por um, arejar, limpar folha por folha e a área do interior da lombada, para um processo superficial. O ideal é o restauro dos livros, com troca do papelão das capas, onde podem estar depositados os ovos.
Para a parte da madeira circundante, seja nas prateleiras, nas paredes da sala e mesmo nos rodapés, há uma solução mais invasiva e efetiva.
Aprendi a trabalhar madeira com meu avô José Pinto de Carvalho, o Vô Gegé, marceneiro e carpinteiro completo, com o qual vivi grande parte da infância e adolescência. Além de trabalhar madeiras nobres de forma artesanal, robusta e elegante, era exímio tocador de violão. Com ele aprendi uma técnica simples.
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Para debelar a infestação de cupins e brocas na madeira, junto o seguinte material:

1) Uma SERINGA DE INJEÇÃO com agulha;

2) Cupincida líquido, ou inseticida líquido;

3) Cêra de abelha;

4) Espátula de metal ou uma faca.

Encha a seringa com o cupincida e injete abundantemente em cada um dos buracos na madeira.

Tape os buracos com a cera de abelha e retire o excesso com a espátula, igualando a superfície.

Deixe o cupincida agir indefinidamente.

O processo é ideal para infestações em seu estágio inicial e em pequenas áreas, pois grandes acervos e infestações generalizadas, que já comprometeram a estabilidade das prateleiras, exigem intervenção de profissionais ou mesmo a substituição de todo o madeiramento do ambiente.

3 de ago. de 2009

Conservação de Livros, Pragas Comuns


Introdução

A manutenção livros oficiais, de bibliotecas e coleções particulares, até mesmo de edifícios históricos envolve muitas e variadas disciplinas, incluindo a conservação e gestão de coleções e edifícios. Os principais agentes de deterioração são os efeitos ambientais da luz e da humidade e os agentes de destruição como os insetos e os fungos. Todos estes factores se encontram interligados e a correcta aplicação do Controle de Pragas deve abordá-los sob uma perspectiva global, não como mera reação a crises isoladas. Um Controle Integrado de Pragas bem elaborado e bem aplicado, poderá evitar a ocorrência de problemas e crises bem como pode permitir a gestão, mais racional e mais eficaz, de recursos humanos e financeiros limitados. O Controle Integrado de Pragas deve ser relevante para as necessidades seja do cartório, da instituição e da coleção, utilizando, tanto quanto possível, a informação e os especialistas locais. Deverá também ser prático e exequível - é muito fácil desenvolver projetos grandiosos, que depois se revelam completamente impraticáveis. Deve ser mais um processo em evolução do que uma revolução, aberto à colaboração de disciplinas diferentes.
Neste link, o mesmo post com ilustrações:

TRAÇAS

As traças podem ser consideradas importantes pragas em áreas urbanas, pois infestam roupas, papéis, tapeçarias, estofados, livros, frutas secas, grãos ou outros alimentos armazenados, e muitos outros produtos manufaturados ou não. Na área urbana identificam-se três grupos distintos, reunidos em duas ordens: o grupo formado pelas traças-dos-livros ou traças-prateadas, pertencentes à ordem Thysanura; e o grupo formado pelas traças-das-roupas e as traças de produtos armazenados, pertencentes à ordem Lepidoptera.
Ordem Thysanura | Família Lepismatidae
Traças-de-livros
Essa ordem compreende os insetos mais primitivos, são conhecidas como traças-de-livros ou prateadas. Seu aspecto lembra um peixe prateado, daí um de seus nomes em inglês ser "silverfish". A família de maior importância dessa ordem é a Lepismatidae.
Descrição e biologia
Medem no máximo 50 mm de comprimento, são ápteros, possuem corpo deprimido e alongado, com 3 filamentos caudais, olhos compostos reduzidos ou ausentes e antenas filiformes (alongadas). São insetos que se alimentam de matéria orgânica vegetal, e substâncias ricas em proteínas, açúcar ou amido, assim, em residências, atacam cereais, farinhas de trigo (úmidas), papéis que contenham cola (papel de parede, livros encadernados em brochura, etc), e alguns tecidos, raramente atacam roupas de lã e outros produtos de origem animal. Possuem hábitos principalmente noturnos, vivendo em ambientes úmidos e escuros. Escondem-se em frestas de móveis, armários, rodapés e caixas.
Principais Danos
Algumas traças adaptaram-se muito bem ao ambiente urbano, consideradas importantes pragas domiciliares, como a Lepisma saccharina. Em museus, bibliotecas, tecelagens, supermercados, hotéis e em muitos outros estabelecimentos comerciais, as traças devem ser monitoradas com rigor, evitando-se infestações severas e danos significativos. Outras espécies também encontradas no Brasil são a Acrotelsa collaris e a Ctenolepisma ciliata.

CUPINS

Apresentam reprodução sexuada e desenvolvimento ametabólico, a fase jovem diferencia-se da adulta apenas pelo tamanho e maturidade sexual. Dependendo da espécie e clima, os ovos eclodem entre 10 e 60 dias, a fase jovem para a adulta dura entre 2 e 3 meses, sendo o ciclo de vida completo de 1 ano.Ocorre em áreas de climas tropical e temperado. Há cerca de 2 mil espécies descritas, 250 delas presentes no Brasil pertencem a 3 famílias: Kalotermitidae, Rhinotermitidae e Termitidae. São conhecidos mundialmente por termite, em latim, que significa "verme que rói a madeira", no Brasil a palavra cupim é de origem Tupi.
Descrição e biologia
São espécies sociais, organizam-se em castas de indivíduos ápteros ou alados. A cabeça é livre, com forma e tamanho variáveis, as formas aladas geralmente com olhos, que são atrofiados nas ápteras. O aparelho bucal é do tipo mastigador e bem desenvolvido, principalmente nos soldados. O tórax é achatado e com protórax destacado dos demais segmentos. Apenas os cupins reprodutores apresentam 2 pares de asas membranosas, que possuem uma sutura basal que se rompe e destaca-se do corpo após a revoada. Vegetarianos, a alimentação varia conforme a espécie: madeira viva ou morta (vários estágios de decomposição); derivados de celulose (protozoário no sistema digestivo auxilia na digestão da celulose); herbáceas e gramíneas vivas; detritos vegetais e partes vegetais vivas; fezes de herbívoros e húmus. Uma característica comum a todas as espécies de cupins é a sensibilidade à luz.
Os indivíduos são distribuídos em castas com diferentes morfologias, são adaptados ao trabalho que desempenham e vivem em ninhos, que podem ser construídos em diversos lugares. Existem, basicamente, 3 castas de indivíduos:
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Alados - destinados à reprodução e responsáveis pela formação de novas colônias. Em cada colônia há o casal real (reprodutores), a fêmea é a rainha, que sofre fisogastria e é responsável pela ovoposição, e o rei, que permanece junto à rainha, tem função de fecundá-la periodicamente. Em caso de morte ou doença de um dos reprodutores, os mesmos são substituídos pelos reprodutores de substituição;
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Soldados - responsáveis pela guarda do ninho e proteção dos demais indivíduos da colônia;
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Operários - casta mais numerosa da colônia e composta por indivíduos ápteros e estéreis, são responsáveis por todas as funções rotineiras da colônia, como obtenção de alimento, construção, reparo, expansão, limpeza do ninho, etc.
Os operários são importantes para a regulagem social da comunidade, através da trofalaxe regurgitam alimento (alimento estomodeal) e secreção salivar ou fluído fecalóide. Essas substâncias, além de valor nutritivo, transportam feromônios reguladores do desenvolvimento social da colônia e também os protozoários necessários para a digestão de celulose. Outro papel importante dos operários é o saneamento da colônia, através da remoção de indivíduos doentes, mortos ou anômalos. Para isso, os operários podem devorar esses indivíduos ou sepultá-los nas paredes ou em outras câmaras da colônia.
Ciclo de vida
Apresentam desenvolvimento incompleto, compreendendo as fases de ovo, ninfa e adulto. As ninfas sofrem ecdises até chegarem à forma adulta. É durante essa fase de desenvolvimento que será definida a "finalidade" da ninfa, ou seja, se transformarão em operários, soldados, reprodutores alados ou de reposição, de acordo com a necessidade da colônia. No último estágio, as ninfas podem desempenhar as funções dos operários.
Após a revoada, os alados perdem as asas e juntam-se aos pares, saindo à procura de local adequado para o estabelecimento da nova colônia. Decorridos alguns dias após a cópula, a rainha começa a postura. As primeiras posturas originam operários apenas, que darão início à construção da colônia. Depois de estabelecida a colônia, surgem os indivíduos das outras castas. Após atingir a maturidade da colônia (por volta de 5 anos), começam também a surgir os indivíduos alados que irão fazer novas revoadas para criar novas colônias.
CUPIM DE MADEIRA SECA
Família Kalotermitidae e Cryptotermes brevis
Habita áreas de climas subtropical e tropical, mesmo em regiões que apresentam inverno rigoroso. É uma espécie estritamente antropófila, sem registro de indivíduos encontrados em ambientes naturais. Fazem seus ninhos dentro dos moveis ou do madeiramento propriamente dito, e suas colônias são pequenas.
Sinais de infestação
Sinais de infestação: são bem discretos em infestações iniciais, porém o sinal mais típico é a presença de grânulos (resíduos fecais) amontoados e localizados abaixo dos orifícios de expulsão. Outra evidência, em caso de infestações com presença de colônias maduras, é a presença de asas espalhadas no recinto.

BROCAS

Conhecidas como brocas de madeiras, as espécies mais importantes que causam danos em móveis são as das famílias Anobiidae, Bostrichidae, Curculionidae e Lyctidae.
Descrição e biologia
Cabeça normal, arredondada, também podendo ser alongada, formando um rostro. Antenas localizadas na fronte e variando conforme espécies. A principal característica é o primeiro par de asas modificado em élitros, de consistência coriácea ou córnea, protegendo o segundo par de asas membranosas, dobradas (quando em repouso). O abdome em geral é totalmente recoberto pelos élitros. O adulto vive fora da madeira, utilizando-a para deposição dos ovos, onde as larvas, posteriormente, irão se abrigar e ali se alimentar até atingirem o estágio de pupa. Atingem de 1 a 3 mm.
Ciclo de vida
Apresentam desenvolvimento holometabólico e reprodução sexuada. O adulto deposita seus ovos em furos ou fendas existentes na madeira, após 1 ou até 4 semanas os ovos eclodem e surgem as larvas, que permanecem dentro da madeira (se alimentando) até empuparem, período que dura cerca de 1 a 4 semanas e, já mais próximo à superfície, a pupa transforma-se em adulto. Este ciclo pode durar de 1 a 3 anos.
Principais espécies e danos
Os danos causados por coleópteros são em menor proporção que os causados pelas térmitas, porém, também requerem atenção. Apenas as larvas causam danos, pois é nesse período que o inseto se alimenta da madeira, formando verdadeiras galerias dentro dela. Uma característica que facilita a identificação de uma infestação por brocas é a presença de furos nas peças de madeira, mas, principalmente, a presença de um pó ou serragem bem fina, assemelhando-se a um talco, próximo à peça. É importante ressaltar que a textura desse pó é que diferencia uma infestação de brocas de uma de cupins de madeira seca. Existem várias espécies de brocas que infestam madeira.
Família Anobiidae
São conhecidas como brocas falsas, pois atacam madeiras e folhas secas de diversas espécies. A cabeça não é destacada do corpo, que tem formato oval. Apresenta coloração castanha escura à preta. Geralmente atacam madeiras moles. Deposita seus ovos em fendas ou orifícios existentes na madeira. Dificilmente infestam duas vezes o mesmo local. Causam grande prejuízo por ter um ciclo de vida muito rápido, um casal produz 200 ovos em 10 dias e no mesmo local.
Família Bostrichidae
Apresentam o corpo em formato cilíndrico e tórax mais áspero, antenas em forma de clave e cabeça não destacada do corpo. Sua coloração é castanha escura. Perfura a madeira para depositar seus ovos e geralmente atacam madeira dura, podendo também atacar madeiras moles.
Família Lyctidae
São as chamadas brocas verdadeiras, atacam tanto madeira dura quanto mole. Apresentam coloração variando do castanho escuro ao preto. A cabeça é destacada do corpo, que tem formato achatado. Deposita seus ovos nos poros da madeira. Seu principal sinal de infestação é a presença de resíduos de madeira nas saídas dos túneis. Causa grande dano por infestarem o mesmo local mais de uma vez.
Superfamília Curculionoidea
Apresentam cabeça prolonga-se em um rosto, de formato mais ou menos alongado, reto e voltado para baixo. São da mesma família do bicudo-do-algodoeiro. Normalmente, ataca grãos armazenados, mas podem atacar madeiras moles.
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CONCLUSÕES

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Se tiver problemas com infestação de pragas, tome uma atitude sem perda de tempo. São pequeninos mas muito eficazes. Se chegou no estágio de perceber sinais da presença de insetos no acervo, é sinal que a destruição já está bastante generalizada.
Existem ainda outras pragas; A ARANHA, que prolifera quando existem insetos no ambiente. RATOS, freqüentes em ambientes sujos ou com alimento disponível. Mas esses descritos são os maiores inimigos de um acervo de livro.
Dando um diagnóstico para uma biblioteca infestada, Zelina Castello Branco foi radical: "Retire do ambiente toda a madeira infectada ou não , substitua os livros afetados e restaure completamente os livros que não podem ser substituídos".
Nunca utilize soluções invasivas nem permita que outro o faça. Ou seja, não espalhe naftalina, não use nenhum veneno líquido ou em pó que deixe resíduos nas folhas, podem causar danos à saúde de todos que manusearem os livros. Já restaurei livros tratados antigamente com BHC, substância em pó, altamente tóxica, de longa permanência residual e atualmente proscrita, e não foi uma experiência saudável.
Em cidades litorâneas ou em ambientes particularmente úmidos, os danos são muito maiores, pois o papel está permanentemente mais mole e o ambiente ao redor - quente e úmido - é ideal para proliferação dos bichinhos.
Assim sendo, a solução depende da limpeza do local, do estado do imóvel e do tipo de prateleira usada.
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Procure imediatamente ajuda profissional. Uma empresa de conceito, da qual obtive parte do material desse post é a DD Drin, no link http://www.dddrin.com.br/index.php . Por certo darão a melhor solução para cada caso.
Se desejar maiores informações, deixe um Comentário.