12 de dez. de 2012

Magister Paper

Magister Paper
Sublime
Westerpost

 Encontrei esta marca d'água num livro de 1925.

É muito rebuscada e com diversas informações.

A marca "I. N.A." , o nome "Magister Paper" e a data "1913", elemento que nunca vi em outros papéis.

Além disso, um conjunto quase heráldico, com uma flor de lis, um escudo e a repetição do INA em letras elegantes.

Quase aos em anos de fabricação, o papel apresenta acentuada oxidação, estando bem amarelado, mas ainda conserva elasticidade e não está ressecado.

Pesquisei sem sucesso sobre esse fabricante, mas registro aqui sua existência.





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Sublime

Outra marca d'água que encontrei em um livro que estou restaurando, de 1916, é a marca Sublime, seguida do brasão  BTH.
Apresenta-se com boa elasticidade e quase branco. Essa folha é a folha de rosto do livro, porisso apresenta manchas castanhas formadas pela gordura de dedos que a manuseram.
 


*   *   *   *   *   *

WESTERPOST

Mais um, de um livro também de 1916, um exemplo de papel brasileiro de alta qualidade, ainda com boa elasticidade e com amarelamento semelhante aos melhores papéis fabricados na mesma época na Europa, é o famoso Westerpost, numa marca d'água simples e direta, com a inscrição Indust. Brasil., sem nenhuma ilustração.




S. O. R. & Co

Livro fabricado por volta de 1920, talvez pela indústria britânica.
Adicionado em 24 de Agosto de 2023.
Tem a figura de um gato, uma prensa, três livros fechados e um aberto.







27 de nov. de 2012

Coru Bond

Esta é a marca d'água do fabricante do papel Coru Bond

Feito em papel CORU BOND, da incipiente e atrasada indústria brasileira de papel, por uma fábrica no Vale do Paraíba, fundada em 1911, por um certo Dr. Cícero Prado, jovem advogado recém formado que compra a Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba, São Paulo.


A terra é pobre, coberta por guamirins e barba de bode e a parte baixa é dominada pelo Rio Paraíba. Foram precisos vários quilômetros de dique para domar o Rio e iniciar uma das primeiras plantações de arroz do Vale do Paraíba.

Devido a grande quantidade da palha de casca de arroz o Dr. Cícero Prado funda uma fábrica de papelão em1927, produzindo de 400 à 500 quilos por dia. A partir daí, mais quatro máquinas foram instaladas, produzindo cartolina de várias qualidades, papel tipo Kraft, papel pergaminho em vários padrões, papel fosco, papel impermeável, alem do célebre produto "Coru-Bond"... 

Com a matéria prima arroz, o resultado é uma fibra muito curta e a colas usada na massa eram altamente voláteis. O resultado é evaporação em curto prazo e muita oxidação, daí a razão para que um livro feito a partir desse material esteja tão quebradiço e ressecado apesar de ser de 1950. Isso ocorre principalmente em livros da região de São Paulo. Tenho trabalhado em livros de 1900, com papéis ingleses italianos  e mesmo papéis feitos no Brasil na mesma época, como o Westerpost , em estado de elasticidade perfeito.

Papelão "couro" Agropel
Em mais um exemplo de como uma palavra pode ser corrompida, sendo esquecida sua verdadeira origem, atualmente é fabricado um papelão denso, de cor castanha que é chamado de PAPELÃO COURO, utilizado principalmente como estrutura de pastas, bolsas e malas, na Indústria de calçados, vidraçarias, Indústria de bolsas, Indústria moveleira, Indústria de bebidas, Indústria de fogos de artifício e Indústria têxtil. É fabricado principalmente com casca de arroz.

Evidentemente não é fabricado a partir do couro, mas, originalmente chamava-se PAPELÃO CORU.

outro post sobre marca d'água neste blog.    



16 de nov. de 2012

Conto do Encadernador Louco

A mão esquerda é minha mão de apoio para cortar o papel.

Primeiro marco a medida, fazendo um risco superficial com o estilete. Antes marcava com um lápis, mas nunca sabia se cortava antes da marca, depois da marca ou no meio da marca. Portanto, corto no corte.

A regra para cortar sem errar é: Primeiro o trilho, depois o corte. Ou seja: Primeiro faz um risco leve em todo o sentido do corte e em seguida corta fundo. Não tem erro.

Dependendo da pressa ou do cansaço ou da burrice, é muito fácil cortar os dedos da mão esquerda que segura a régua. Depende ainda se a lâmina é nova e ainda com a vaselina que o fabricante usa para poder vender uma do lado da outra num estojo de plástico. Depende ainda mais se é uma maldita lâmina fabricada na China, aquelas que se desfazem em pequenos pedaços ao menor deslize da mão.

Mas depende principalmente da burrice.

Já cortei de todas as maneiras. Desde a ponta do indicador até a falange do meio. Bem no meio do polegar salvo pela grossura do unha. À esquerda e à direita desse mesmo polegar. Cortes rasos, cortes fundos, talhos, arranhões. De todas as formas possíveis.

A providência é lavar com iodo, queimar um pedaço de algodão e abafar o fogo quando começar a virar carvão e aplicar este carvão ao corte. Isso faz parar qualquer sangramente no mesmo instante. Envolva tudo com esparadrapo ou micropore e deixe ficar por uns dois dias.

Usando o estilete o dia inteiro, é inevitável se cortar.

Faz algum tempo, cortei um pedaço grande do lado direito do meu dedo indicador esquerdo.

Saiu inteiro. Um pedaço de uns três centímetros, ainda com um canto de unha, ficando bem visível a derme, mesoderme, endoderme e um pedaço de carne com pequenas veias. Segurei firme acima de minha cabeça para parar o sangue e fui tratar. Lavei, apliquei algodão queimado, enrolei com uns trinta centímetros de micropore e voltei para o atelier.

O pedaço estava lá, em cima da mesa, ao lado do estilete ainda com um fio de sangue. Pensei: esse livro vai ficar com meu DNA.

Me pareceu um pedaço tão grande de mim que merecia um sepultamento digno ao invés de simplesmente ir para o lixo. Fiquei com pena e deixei de lado, recomeçando o trabalho que nunca pode parar.

Limpando a mesa no fim do dia, o que fazer com aquele bife?

"Não sei se por ironia ou se por amor ", peguei um prego e preguei o pedaço de mim já meio seco, num canto da prateleira de ferramentas.

Bastou um mes, ou pouco mais, para cortar um pedaço da ponta do polegar direito, um pouco para a esquerda. Coisa pouca. E o pedaço acabou pregado ao lado do outro.

Macabro e de mau gosto! Sem dúvida, mas são pedaços meus e me levo em grande consideração, Vão agora me censurar por meu amor-próprio, minha autoestima?

Enfim, o corpo humano tem um fascinante poder de recuperação e bastam umas semanas para o dedo ficar como novo.


Mas o "acidente" seguinte foi estranho.

Juro que foi sem querer, mas posso jurar também um lampejo de olhar maligno para do dedo, pouco antes de cortar de novo um pedaço grande do pobre indicador esquerdo.

Esse novo pedaço bem considerável foi parar ao lado dos outros, devidamente equidistantes.

O que pretento? Juntar pedaços de mim mesmo para fazer um homem novo? Mostrar que sou um mártir, quando é evidente que sou apenas um desajeitado? Lembrar o quanto sou burro e descuidado? Ou um hellraiser ensandecido? Colecionar pedaços de mim?

Quem sabe?

Hoje, o corte está curado, apenas levemente áspero na cicatriz, mas tenho me flagrado olhando de forma sinistra para a minha pobre mão sinistra, enquanto a dextra segura o estilete e desliza perigosamente a alguns centímetros da carne.

27 de ago. de 2012

Envelhecimento e Tingimento de Papel

Um velho livro sempre há de apresentar as folhas amareladas, como efeito da oxidação e evaporação natural da celulose.

Uns mais escuros do que outros, dependendo sempre da acidez dos produtos usados no branqueamento do papel durante o processo de fabricação. Quanto mais distante da acidez neutra, mais rapidamente se dá o processo de escurecimento do papel.

No reparo ou restauro de um livro mais antigo, é quase sempre aconselhável substituir as folhas de rosto ou mesmo acrescentar uma ou duas para proteger as primeiras e últimas páginas do livro.

Folhas de rosto são aquelas folhas em branco no início e no fim do livro, logo depois e antes das folhas de guarda, estas normalmente marmorizadas.

Sempre uso DUAS ou mais folhas de rosto nos meus trabalhos, adicionando mais proteção ao conteúdo do livro.

Para que estas folhas tenham a mesma tonalidade do livro original, é preciso recorrer ao papel envelhecido artificialmente, do contrário as folhas brancas causarão um choque de contraste com as folhas oxidadas.

Sempre experimentando, tenho usado principalmente o envelhecimento por CAFÉ ou por PINHÃO.




 O método é simples.

Basta usar o café já coado, misturando-o à quantidade de água para obter a cor na intensidade desejada e acrescentar algumas gotas de formol. Mergulhar o papel no líquido, retirar, deixar escorrer o excesso e pendurar para secar à sombra.

Com a água resultante do preparo do pinhão, é a mesma receita.

Em nenhum dos processos ocorre a presença de gordura, o tingimento é uniforme e livros que fiz há mais de dez anos ainda permanecem com a mesma aparência.

21 de ago. de 2012

Papel Al Masso

Al Masso

Linen Ledger 

A marca do fabricante de papel Al Masso tornou-se sinônimo de certo tipo de papéis pautados vendidos em folhas soltas aqui no Brasil.

É até hoje indicado principalmente para trabalhos escolares, 

O mesmo processo de substantivação de nome próprio aconteceu com outros produtos pioneiros que dominaram o mercado de consumo, como rinso para todo sabão em pó, modes para todo absorvente íntimo, gilete para todas as lâminas de barbear, brâma para todas as cervejas, entre outros exemplos.

É chamado de "almaço" nos dicionários modernos, que muito erroneamente justificam como originado de "a lo maço". Cito o iDicionário Aulete e copio: [F.: Da loc. port. ant. a lo maço, referindo-se ao modo com que é feito.]. É a corrupção da origem da palavra, com o "Ç" aportuguesando definitivamente o termo.  

O papel que contém esta marca d'água "FIUME" que é o tipo, e "AL MASSO" que é a marca do fabricante, com linhas verticais e ranhuras horizontais,  faz parte de um livro que estou restaurando. É datado de 1908, mas o papel deve ter sido fabricado algum tempo antes.




Tendo mais de um século, ainda apresenta boa cerosidade, boa elasticidade e apenas uma leve oxidação generalizada sem manchas. Tem resistido bem ao processo de evaporação natural da celulose.
  
Numa rápida busca na internet, encontrei apenas referências a esse papel, principalmente na descrição de gravuras e documentos antigos, com descrições de escritos sobre esse suporte de Biron e Shelley datados de 1790.


Script: Arabic. Physical Description: Paper: Cream~colored European paper is used. The watermarks include the words of. Al Masso (p.l )1 and FIUME (p.21).

Bonhams 1793 : BYRON (MAJOR GEORGE GORDON DE LUNA ...
grandmotherly and most impartial paper could not ... address panel and red wax seal on verso, paper watermarked 'Al Masso', ...

tortue, Papyrus, parchemin et papier. Le document .... 300mm, com linhas de marca d'água verticais e a identificação do tipo de papel: “AL MASSO”. Marcas de ...

Papel branco; 210 X 304 mm. Tinta sépia e aguadas a cores. Bom. Contramarca da primeira metade do séc. XIX (c.a 1830), com a legenda: «AL MASSO», que ...  

O fabricante é italiano? Pois "fiume" é "rio" nesse idioma.


Regent Linen Ledger

Outro exemplo de marca d´água, como o encontrado num livro de 1929, traz uma coroa e a marca Regent Linen Ledger.


Na pesquisa direta, não consta da relação de marcas d´água de fabricação Americana, encontrada neste link, mas segue um mesmo padrão de denominação "linen ledger", comum em muitos fabricantes.  

Linen Ledger - Profile

Outra marca, de uma série de livros datados de 1921. trazem a mesma inscrição "linen ledger" com a palavra "profile".

 

18 de jul. de 2012

Um Encadernador Medieval no Século XXI

Um Encadernador Medieval no Século XXI

Esse dias compartilharam a foto de um encadernador trabalhando em um local extraordinário. Era como um antigo mercado, onde se via as colunas altas terminando em abóbodas. Mas o artesão utlizava uma furadeira elétrica para furar grossos volumes de folhas em formato ofício. Provavelmente iria amarrar cada um desses blocos passando o fio pelos buracos. Enfim, realizava uma técnica pobre e meramente comercial.


O que me chamou a atenção foi a disparidade da imagem, composta de um lugar antigo ao fundo e um homem usando um aparelho moderno em primeiro plano. Incongruente e conflitante.

Para qualquer pessoa, talvez isso seja tão normal quanto uma tela deTV HD de 50 polegadas na Capela Sistina, mas eu fiquei chocado.

Em todo meu processo de trabalho não uso nenhum equipamento e nem um wat de energia elétrica.

O mais volumoso e pesado é uma prensa pequena e antiga. Para manuseio, uso tres espátulas de diferentes formatos, um estilete largo, um pincel para a cola, martelo, alicate, uma raspadeira e um brunidor. Tenho uma régua de 60 centímetros que é talvez o objeto mais tecnológico do atelier, pois é japonesa e de aço inoxidável, que é uma maravilha. Para cortes mais pesados e longos, uso uma barra de cobre de um metro e quarenta como guia.

A mesa de trabalho em cedro, eu mesmo fiz, usando serrote e arco-de-pua. As prateleiras também.

Mas, e para dourar? Para douração, prendo os tipos entre dois longos parafuros e esquento na chama de uma vela.

Assim, se eu fosse transportado para a Idade Média, nu como nasci, continuaria trabalhando do mesmo jeito.

Mas qual é o problema? Não tenho dinheiro para comprar uma guilhotina, um hot stamping ou uma furadeira?

Pois não se trata disso.



Ao abdicar de máquinas e instrumentos industriais de qualquer espécie estou tratando o livro com cuidado e carinho. Uma guilhotina somente desfigura o livro, uma prensa de encaixe flagela as delicadas folhas, um facão deixa as folhas cortantes. São todos intrumentos muito invasivos que agridem o livro.    

Durante uns vinte anos, fui contador por ter aprendido com alguém a profissão. Cursei psicologia mas nunca exerci. Mas aprendi por conta própria a restaurar e encadernar e todos os aparelhos, móveis e instrumentos que utilizo são feitos por mim.

Assim eram os encadernadores medievais. Eram senhores de seu ofício e de seus instrumentos de trabalho.

Assim é o homem marxista perfeito. Livre, criativo e senhor de seu meio de produção.

Ambos completamente independentes de equipamentos produzidos por outros.


Porisso a imagem do homem com uma máquina num lugar antigo causou em mim esse impacto peculiar

21 de abr. de 2012

Parece Livro, é uma Caixa.

Compartilho da amizade de grandes artistas da encadernação através das redes sociais e admiro o resultado da aplicação das técnicas de encadernação que realizam em outros objetos.
Caixas que parecem Livros ao primeiro olhar são aqueles que mais atraem minha admiração.
Fiz alguns trabalhos nessa direção.
A maioria para presentear a amigos e bons clientes.
Como dão muito trabalho - até mais do que um livro comum - o preço de venda tem que ser elevado, mas cheguei a vender alguns em lojas de presente.
Hoje, realmente não tenho tempo para me dedicar a esse material.
Alguns sobraram, por serem apenas protótipos onde fiz muitas experiências e por sua estética duvidosa.
Mas me ocorreu mostrar esses trabalhos, onde faço uso de soluções muito particulares que podem ser úteis a quem quiser fazer igual.
*
Diversas Capas de Livros - Caixa, todos em couro com dourações manuais.
 
Capas de Livros Caixa
 Interior de Livros-Caixa, em papel marmorizado
 e caixas feitas em madeira ou papelão revestido.
Notem o arredondamento dos cantos internos 
e o uso de pinos de madeira e tiras de couro como fecho.


Interior de diversos livros-caixa
 Detalhe de diversos livros-caixa, mostrando como 
o arredondamento dos cantos internos aumenta a ilusão. 


Detalhe de Livros-caixa
 Perdoem a escolha de couros e efeitos, mas são apenas experiências feitas com os materiais disponíveis no momento. Atualmente, uso esses livros-caixa para guardar ferramentas pequenas, tipos especiais e livros quase desintegrando que me dão dó restaurar.

10 de abr. de 2012

Dicas Para Conservação de Livros

Livro é um objeto frágil.
*
O prosaico ato de ler já contribui para sua deterioração, graças à precariedade da indústria gráfica e a falta de padrões dos editores. 

Começando pela análise do papel, normalmente é de baixa qualidade, comprovável pela alta porosidade causada pela economia de agente agregador da massa de celulose, resultando em evaporação acelerada e pouca resistência à umidade e fungos.
Fazem grande economia de margens, tanto nas bordas internas quanto nas externas, resultando que o leitor tem que forçar a abertura e assim deforma o livro. As colas usadas são de alta acidez, soltando-se e ficando quebradiças já na primeira leitura.

As capas são precárias. Enrolam para fora e soltam-se do miolo do livro, sem mencionar que aquelas bonitas letras douradas dos livros do Harry Potter e da série Crepúsculo somem em pouco tempo por força da fricção.

Para mitigar um pouco o sofrimento deles, passo umas dicas de conservação.

FUNGOS EM LIVROS DE COURO

Limpe o couro com um pano umedecido em detergente tipo "veja" multi-uso diluído 50/50, em seguida friccione o remédio VODOL (nitrato de micozanol) líquido. A receita serve para qualquer objeto de couro ou papel.

HIDRATAÇÃO DO COURO

Limpe o couro da mesma forma acima, depois use hidratante normal, tipo Vasenol, Nívea, etc., passando com uma esponja ou um pedaço de pano limpo. 

Se tiver sinais de fungo, acrescente Vodol creme ou líquido e hidrate com essa mistura.

LAVANDO O LIVRO

Se comprou um livro no sebo, ou se emprestou para alguém e voltou sujo, ou se emprestou um livro sujo de alguém, ou seus livros estão sujos mesmo, pode lavar as capas que sejam plastificadas ou de papel couchet. 

Use detergente multi-uso dliluído 50/50, mergulhe o pano no recipiente, torça bem e esfregue rapidamente até tirar toda a gordura e sujeira da capa. 
Pode passar de leve no alto das folhas se estiverem muito sujas. 
Em seguida passe um pano seco e limpo. Aqueles livros de capa dura do Clube do Livro são inteiramente laváveis. Siga sempre mergulhando o pano na solução de detergente e torcendo bem.

PASSANDO CERA DE ABELHA

Se há um elemento inestimável para conservação de livros, é a bendita cera de abelha. Possui incríveis propriedades anti-fungo e anti-mofo, também mantendo distante cupins, traças e brocas. 

Uso principamente para encerar os fios de costura do livro.
Mas também pode ser usada com sucesso para:

1) esfregar em manchas de fungo e mofo das folhas;

2) esfregar na parte superior das folhas com livro bem fechado;

3) encerar as capas de livros antigos, garantindo às folhas ressecadas e porosas um pouco de proteção.

Vale a pena passar numa loja de material de construção, daquelas antigas onde tem de tudo, e comprar umas gramas de cera. É muito barato e dura muito tempo. Se tem casa algum objeto de madeira com aquela cultura de fungo verde, lave e passe a cera. Fica livre do fungo e bonito.



O Manuseio do Livro

Os critérios para manusear um livro são determinantes para uma maior vida útil e de sua permanência no acervo. Recomenda-se portanto, a adoção de normas e procedimentos básicos, como por exemplo o treinamento de pessoal, que contribui consideravelmente para a conservação preventiva do acervo, seja pequeno e estimado ou grande e inestimável.

♦ Não manusear livros ou documentos com as mãos sujas, lavando as mãos após cada refeição.
♦ Não manter plantas aquáticas, guarda-chuvas e capas molhadas junto às prateleiras.
♦ Em dias muito úmidos, evitar abrir as janelas.
♦ Não fumar nem consumir alimentos perto dos livros.
♦ Não usar fitas adesivas, durex de qualquer tipo, colas plásticas, grampos ou clipes metálicos nas folhas e documentos guardados nos livros.
♦ Não dobrar os cantos das páginas (orelhas), pois ocasiona o amolecimento e rompimento das fibras. Nunca virar as páginas segurando pelos cantos.
♦ Usar marcadores próprios, finos, evitando efetuar marcas e dobras.
♦ Não retirar o livro da estante puxando pela borda superior da lombada.
♦ Os livros devem permanecer em posição vertical, em pé. Nunca acondicioná-los com a lombada para baixo ou para cima.
♦ Nunca manter os livros muito compactados nas estantes.
♦ Fazer o transporte dos livros individualmente.
♦ Nunca umedecer os dedos para virar as páginas do livro. O ideal é virar pela parte superior da folha, procurando a página e abrindo todas as folhas de uma só vez.
♦ Não apoiar os cotovelos sobre os volumes de grande porte durante a leitura.
♦ Não fazer anotações, particulares ou profissionais, em papéis avulsos e colocá-los entre as páginas de um livro. Eles deixam marcas e permitem a penetração de sujeira e umidade.
♦ Evitar forçar a abertura para tirar cópias de livros. Esta prática danifica não só a encadernação como também o papel.
♦ Não utilizar espanador e produtos químicos para a limpeza do acervo e a área física da biblioteca, use trincha em local afastado das estantes. Para evitar a distribuição de poeira sobre os volumes, o piso deverá ser limpo com pano úmido.

A ilustração do “Livro Monstro de Harry Potter”?

Ora, o segredo para o livro não morder é: sempre tratá-lo com carinho.

30 de mar. de 2012

O Mundo Reciclado

Houve uma época na história econômica da humanidade denominada de “Revolução Industrial”, quando as primeiras inovações técnológicas surgiram como resposta à crescente demanda por bens e serviços.

O pequeno tecelão fiava algumas peças de roupa por mês, mas as pessoas queriam comprar mais. Então vieram as máquinas de fiar, movidas a força humana e depois a vapor e depois pela eletricidade.

Na indústria livreira, os livros eram produzidos para poucos, manuscritos ou impressos com estampas fixas. No início do processo de industrialização do livro, com a utilização de tipos móveis, ospapéis eram feitos com tecido de algodão ou seda. O resultado era folhas resistentes, que não amarelavam ou rasgavam. Sobrevivem livros dessa época até hoje, apresentando-se completamente brancos e íntegros, invulneráveis a pragas.

Livros populares começaram a surgir. Eram baratos, feitos de massa de celulose. Apesar de feitos de massa de madeiras nobres ainda abundantes e baratas obtidas nas florestas da África e das Américas, não conseguiam cativar a atenção da classe burguesa emergente.

Mundo antigo e mais vulnerável às doenças, foi seduzido por uma mentira. Surgiu o boato de que os bons e resistentes livros feitos com fibras de tecido eram feitos a partir de… BANDAGENS USADAS DOS HOSPITAIS!

O resultado foi imediato, acabando com os papéis de tecido e abrindo espaço para os livros de celulose.



Hoje em dia, há uma glamurização do papel reciclado. Pessoas de bom gosto escolhem e pagam mais caro por papéis com cara de artesanal, feitos sabe-se lá do que.

Meus livros só foram árvore. Meus couros só foram cabra e boi. Não reciclo, reaproveito.

Nessa sociedade consumista, fabrica-se com duração programada. Steve Jobs foi o grande profeta do deus Obsolescência Programada.



Celulares e câmeras são fabricadas com pré-determinado número de ligações e fotos. Se acabou, não tem conserto.

Todo ano troca de agenda, de livros didáticos, de vade-mecuns e outros livros jurídicos efêmeros e cadernos escolares abandonados pela metade.

Não recicle, reaproveite para sempre, use até o final.

22 de mar. de 2012

Santa Wiborada, santa dos encadernadores

◊Lido “A Galáxia de Gutemberg”, de Marshall McLuhan, ficaram algumas curiosidades sobre livros em geral. Uma que me lembro com estranheza é que pessoas que lêem muito ficam com dor de garganta, pois os músculos involuntários da garganta se movimentam como se estivéssemos recitando.

◊Explica que até lá pelo século XIV a leitura era apenas em voz alta. Os livros eram escritos para serem recitados, com regras, ou ausência das regras de pontuação, então vigentes que respeitavam a respiração do orador, a salivação e a entonação apropriada. Por isso os monges se isolavam em celas: para fazer suas leituras sem atrapalhar o próximo. Com o advento da vulgarização da leitura, veio a “leitura silenciosa”, quando as pessoas passaram a ler para si mesmas. Nos anos sessenta, ainda era assim que as professoras se referiam ao ato de cada um ler suas lições em sala de aula.

◊Curiosidades sobre livros, como essas, servem para aprimorar nossos conhecimentos, pois, após a Educação vem a Sofisticação, ou seja, o refinamento, a sintonia fina que diferencia das pessoas educadas em massa.

◊Um livro cheio dessas extraordinárias informações diferenciadoras, com pérolas preciosas de deliciosa cultura é o “Historia General del Libro Impreso” de Rosarivo, feito para um congresso de indústria gráfica da Argentina em 1964, que está escrito assim na folha inicial: “M.DCCCCLXIIII”, o que não constitui um erro, como a princípio julguei, mas uma forma especial de escrever em caracteres romanos, comum em livros do século XIV.

◊Introduz com a história da padroeira dos encadernadores e, por extensão, dos bibliófilos: Santa Wiborada.

◊Era Bibliotecária do Monastério de Saint Gall, segundo alguns, ou monja que trabalhava nas oficinas de encadernação, segundo outros e mais provável, enfrentava a ameaça de bárbaros que marchavam sobre a cidade e iriam passar sobre o monastério saqueando e queimando, até encontrar as muralhas da cidade. Os monges já estavam fugindo aterrorizados, mas ela os convenceu a esconder as obras, enterrando-as nas valas defensivas da cidade. Passaram aquele dia 1 de maio de 925 e a noite que o seguiu pondo os preciosos manuscritos em local seguro. Os bárbaros húngaros chegaram, arrasaram o monastério e avançaram sobre a cidade fortificada. Após três dias de luta sangrenta, foram repelidos. Foram encontrar Wiborada mutilada e morta, jazendo sobre o local onde haviam enterrado os seus preciosos livros.

◊Depois de penar para encontrar referências sobre ela, pedi ajuda ao sítio Cadê meu Santo e esses caras absolutamente rápidos e prestativos me mandaram texto e foto, com preciosas informações. Confirmaram o nome, que pensei de início ser uma argentinização, era também chamada Guiborath e/ou Weibrath. Que era encadernadora e profetiza, sendo atribuído a ela profecia sobre a chegada dos bárbaros húngaros. Um de seus atos piedosos foi transformar sua casa num hospital para os pobres e ido servir a Deus num monastério. Sites oficiais confirmam sua martirização.


Foi a primeira mulher a ser canonizada pela igreja católica e isso ainda em 1.047. Seu dia é o 2 de Maio e é representada como uma freira beneditina segurando um livro e um machado.

◊Mulher de valor e santa guerreira, já praticava lutar pelo livro.


 ◊Que por todos nós interceda!

27 de jan. de 2012

A Função Objetiva e Social do Encadernador Clássico


Função Objetiva

O exercício da profissão de encadernador tem se tornado meramente de atendimento à demanda do mercado.


O encadernador comercial faz um livro contábil-fiscal segundo o menor custo, considerando sua duração efêmera de apenas cinco anos, aplicando uma técnica que permite que folhas sejam substituídas sempre que necessário e sem deixar marcas, pois é desejo de seu cliente alterar os registros contábeis a qualquer tempo. Ainda, encaderna monografias escolares, publicações e livros com ou sem valor bibliográfico, utilizando dessa mesma técnica, à qual fica limitado. Chamado a atender um cliente, oferece sempre seu produto mais acessível e a técnica a seu alcance.


Contudo, a função objetiva de um Profissional de Encadernação vai muito além desse atendimento automático às demandas do mercado. Deve abranger desde a indicação de técnicas mais apropriadas a cada trabalho até os cuidados com o acervo geral do cliente.



Cuidando do Acervo

Ao prestar serviços a seu cliente, o encadernador deve observar a situação do acervo de livros, sejam eles contábeis, fiscais, públicos ou privados. Sua obrigação ao iniciar o trabalho compreende os cuidados seguintes: 


- Verificar se estão guardados em local seco e arejado, sem incidência de luz solar direta, com pisos cerâmicos ou impermeáveis, principalmente verificando se há goteiras ou infiltrações de umidade.


- Observar se há infestação de pragas, como traças e cupins, bem como pesquisar junto ao cliente se há histórico ou mesmo se há sinais de uso de venenos de longa permanência, como BHC, DDT e organoclorados, nocivos à saúde humana.


- Manter o acervo distante da cozinha, refeitório, despensa ou banheiros, evitando contaminação por baratas e outros insetos, exposição dos livros a fontes de calor, acúmulo de gordura e umidade.


- Indicar ao cliente o uso de papéis de qualidade e que sejam de acidez neutra.


Concluindo que o acervo inspira cuidados adicionais ou se encontra em estado precário, o encadernador deve alertar o cliente e sugerir as medidas necessárias para melhor conservação.



Aplicando a Melhor Técnica

É óbvio para qualquer profissional que deve ser aplicada a técnica adequada e utilizados os materiais apropriados a cada tipo de livro. 


Mas não tenho visto isso ocorrer na prática.

 O que vejo é a aplicação indiscriminada da mesma técnica primária e dos mesmos materiais sintéticos frágeis, seja nos livros fiscais efêmeros, em documentos públicos de validade indeterminada, ou em obras de grande valor bibliográfico. É a regra do menor custo e do menor benefício. O encadernador oferece o mínimo para não correr o risco de perder o trabalho e o cliente aceita por achar que esse é o único produto disponível. O resultado dessa equação pelo mínimo é a perda de credibilidade do profissional e a insatisfação do cliente, além da deterioração acelerada de todo o acervo.

- Assim, livros de maior peso ou dimensão, como os livros de cartório, devem receber reforços adicionais, com uso de materiais resistentes ao manuseio repetido e que permitam ser higienizados com regularidade.


- Os livros de valor sentimental ou bibliográfico devem ser encadernados com sensibilidade, utilizando materiais duráveis e nobres, conservados todos os itens, como capa, contra-capa, orelhas e anotações, resultando num trabalho que complementa a obra e respeita a estética da época em que foi editada. Nesses casos,sempre evitar a padronização e procurar manter a singularidade de cada obra.


- Os livros fiscais, monografias e outros onde é admitido o uso de acabamento sintético tipo vulcapel, podem ser reforçados para que cumpram seu tempo de uso com alguma dignidade e não se desfaçam ao primeiro manuseio.


Em qualquer caso, o cliente é merecedor de receber o melhor benefício pelo melhor custo. Cabe ao Encadernador oferecer as técnicas mais apropriadas e assessorar o cliente em todos os aspectos, valorizando sua nobre ciência e enobrecendo o acervo. 



Função Social

Acredito que a encadernação segundo a boa técnica clássica tem importante função social.


Quando aplicada em livros oficiais, garante sua integridade e inviolabilidade, prevenindo fraudes e interferências. Um livro sólido e bem conservado tem mais credibilidade, muito mais fé legal, do que um livro frágil e dilacerado pelo simples manuseio.


Os livros oficiais guardam a história dinâmica de nossa Sociedade, onde são registrados os nascimentos, casamentos e óbitos, as transações imobiliárias e os contratos entre os entes sociais. A encadernação, aqui compreendida desde o assessoramento do acervo, é o mais importante item de conservação dessas informações.


Quando aplicada em livros em geral recém editados, garante a qualidade do produto final e respeito ao consumidor.


Adotada em obras de valor bibliográfico, preserva-as. Outras gerações poderão apreciar suas qualidades, uma vez que suas características originais foram respeitadas.


Ao adotar técnicas que dão ao livro resistência e longevidade, também contribui para o uso racional de recursos naturais, pois um livro corretamente encadernado e preservado nunca precisa ser refeito.