27 de set. de 2017

O maior inimigo do livro

O maior inimigo de um livro é um encadernador sem técnica.

O Tempo não é inimigo do livro, pois o Tempo valoriza a obra bem feita e passa pelo livro naturalmente.

As Pessoas não são os piores inimigos do livro, pois mesmo o manuseio mais descuidado apenas revela a utilidade e o interesse das pessoas pelo conteúdo do livro.

O maior inimigo de um livro é um encadernador ruim, preguiçoso, mesquinho e desrespeitoso.



Vejam estes livros.

São três livros, datados de 1893 a 1914, com marca d'água AL MASSO, que sofreram uma interferência desastrosa de alguém que CORTOU OS CADERNOS! Em seguida serrou as folhas para somente amarrar, fazendo diversos pequenos cortes talvez para penetração de sua cola. E USOU COLA DE SAPATEIRO!!!!


Transformou o livro em um BLOCO.
Não restaurou as folhas
 e guilhotinou os quatro lados do livro.


Este outro livro, também de 1914, passou por uma interferência razoável talvez nos anos 1960 e apresenta os cadernos ainda intactos.

Aquele que se diz encadernador faz um trabalho tão precário que destrói e mutila um livro e ainda tem coragem de cobrar por isso.

Tenho restaurado e encadernado livros antigos, velhos e recentes.

Quando um livro nunca sofreu nenhuma interferência o trabalho é muito fácil. Basta reparar os rasgados, reforçar as dobras de cada caderno, costurar os cadernos, elaborar a capa e o trabalho está feito.

Mas a maioria dos livros que tenho restaurado já passaram por mãos sem conhecimento e habilidade.

Estão sem nenhum restauro ou reparo das folhas. Estão serrados e amarrados. Cola foi aplicada em cima das dobras rasgadas dos cadernos, penetrando mais profundamente ainda, sendo penoso e danoso desmembrar os cadernos.

Esses livros estão simplesmente guilhotinados, com redução das margens e até com perda de texto, pois alguém não teve o capricho de reparar as avarias e manter o livro íntegro. Muitas vezes completamente torto!

O mau encadernador é capaz de muitos outros erros, como usar fita adesiva e mesmo fita crepe, jogar fora as etiquetas do fabricante original e as capas originais e as orelhas do livro, usar capas muito maiores do que o livro, colar o lombo falso na lombada interna do livro, costurar os cadernos sem serrotar o cortando o papel com a agulha, usar cola de sapateiro em material sintético e a cola se transforma em óleo e se desfaz.

O mau encadernador é um pesadelo para o livro e um pesadelo para o encadernador técnico e competente que depois precisa primeiro desfazer todos os erros cometidos para só então poder fazer o bom trabalho.

E vou dizer em desabafo:

NUNCA ENCONTREI NENHUMA ENCADERNAÇÃO PELO MENOS RAZOÁVEL EM TODOS OS MEUS ANOS DE TRABALHO.

Nunca me deparei com um livro bem refeito, seja de livros de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina ou Paraná. Lugares onde já atuei. Todos sempre precários, errados, feios e criminosos. Todos de uma pobreza atroz.

Sendo assim: PRENSA NELES.