Relatório "O LIVRO A-3"
Da Fabricação aos Dias Atuais
Este livro foi fabricado por volta de 1940, Feito em papel CORU BOND, da incipiente e atrasada indústria brasileira de papel, por uma fábrica no Vale do Paraíba por um certo Dr. Cícero Prado, jovem advogado recém formado que em 1911 compra a Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba, São Paulo. Conto sobre isso neste blog: http://cuidardolivro.blogspot.com/2012/11/coru-bond.html
Devido a grande quantidade da palha de casca de arroz disponível o Dr. Cícero Prado compra máquinas usadas de uma indústria da Alemanha e funda uma fábrica de papelão em 1927, produzindo de 400 à 500 quilos por dia. A partir daí, mais quatro máquinas foram instaladas, produzindo cartolina de várias qualidades, papel tipo Kraft, papel pergaminho em vários padrões, papel fosco, papel impermeável, além do célebre produto "Coru-Bond".
Cada uma das folhas deste livro apresenta a MARCA D’ÁGUA, ainda visível se olhado contra a luz, com um escudo: Um vale com o rio Paraíba cercado de montanhas e a inscrição "Ind. Bras. Coru-Bond".
Com a matéria prima casca de arroz, o resultado é uma fibra muito curta e a cola usada na massa era altamente volátil. O resultado é evaporação em curto prazo e muita oxidação, daí a razão para que um livro feito a partir desse material esteja tão escuro, quebradiço e ressecado apesar de ser de 1940. Isso ocorre principalmente em livros da região de São Paulo. Tenho trabalhado em livros de 1900, com papéis ingleses, italianos e mesmo papéis feitos no Brasil na mesma época, como o Westerpost , em estado de elasticidade ainda aceitável e com pouca oxidação.
Segundo me foi relatado, este livro passou por duas enchentes, apresentando como prova marcas de barro nas laterais e a tinta do texto bastante diluída.
Oferecido para "restauração" pelo Cartório da cidade de Pedro Osório-RS, em 25 de Novembro de 2021, com trezentas folhas no formato 40,2 cm por 27,0 cm, tinha TODAS as folhas soltas e apenas vestígio da contracapa.
Todas as folhas estavam com os cadernos desfeitos e as folhas separadas. 100% das folhas apresentavam mutilação em todos os graus. Cerca de 70% das folhas faltando partes essenciais, sem fragmentos disponíveis para recomposição, com grande perda de material nas quatro margens. Outras 20% com as laterais rasgadas e enroladas. Cerca dos 10% restantes ainda intactas mas apresentando rasgados e fissuras nas laterais e partidas no meio. Todas sofreram interferência em algum grau.
Para reparo do livro, visando cessar a perda de fragmentos, proteger o material restante e permitir o manuseio cotidiano, SEM COBRIR O TEXTO, foram utilizados diversos materiais como:
- sulfite 65 gramas para laterais e áreas extensas sem texto;
- papel vegetal (manteiga) 45 gramas para as laterais com texto, para as laterais em geral e para re-unir as folhas;
- papel de seda e papel de arroz em ambos os lados de rasgados com texto;
- papel sulfite 120 gramas para um caderno em branco no começo e outro no fim do livro.
Com esta finalidade e com estes materiais as folhas foram reparadas, depois unidas para formar cadernos de dez folhas cada novamente e estes cadernos costurados, resultando no MIOLO do livro acabado. Em seguida, feita a capa com acabamento em couro fino que permite abertura suave e tela de tecido marmorizado. Fiz uma caixa sob medida para proteger o livro da umidade e da poeira, mantendo suas folhas mais unidas.
É importante considerar que este é um LIVRO MUITO FRÁGIL.
As folhas permanecem quebradiças e não resistem ao manuseio descuidado.
Não faça pressão sobre as folhas. Até escrever nelas pode partir e rasgar.
Não folheie segurando pelas pontas. Escolha a folha desejada e abra sem segurar as folhas.
Curitiba, 8 de Janeiro de 2022.
Pedro Malanski