8 de nov. de 2016

Carta ao J. D. Salinger

Carta pro J. D. Salinger

Caro Jerry Salinger


Como sei que você continua antenado com o que acontece em seu nome pelo Mundo, vou mandar pro astral da internet um recado prá voce ler.


Fique de boa. Não vou encher muito seu saco, cujo saco todo mundo sabe já encheu faz tempo.


Andam dizendo por aqui que você foi importante demais por ter sido o primeiro a por no papel impresso a voz da juventude  norteamericana. E isso é só o que falam de bom.


Dizem também que voce era um pedófilo sofisticado e que inspirou meia dúzia de mass murder. Que A Guerra te deixou tão travado na adolescência que nunca amadureceu e se tornou homem. Que nunca mais escreveu nada de bom e que, na melhor  das hipóteses, tinha uns parafusos de menos na cabeça.


Não vou dizer que te entendo. Mas, se no seu tempo já era difícil ser um INDIVÍDUO, voce não imagina o quanto hoje isso é impossível, penoso e tudo mais.


Aqui tá foda!


Andei pensando em voce ao dar uma  encadernada no The Catcher in the Rye.


Tenho o livrinho faz tempo e tava bem baleado. Aí juntei mais umas informações, dei uma consertada e encadernei.


Me deu a idéia de fazer a capa com um couro preto para representar o abismo e outro couro claro amarelinho para o campo de centeio, entende?


Para a ilustração, fiz aqueles bonequinhos de papel de mãos dadas, conhece?  Cortei em papel grosso e prensei no couro claro ainda úmido de cola. O negócio é para ficar parecendo um bando de crianças à beira do abismo. Ficou mais ou menos.


Fico pensando que é o que acontece hoje aqui: A gente indo pro buraco todo mundo junto, ainda cantando alguma musiquinha meio besta, de mão dada e tudo.


Tá bom! Gosto mais da metáfora do abismo como lugar onde sacrificamos nossa inocência e Holden nos socorre se tivermos sorte.


Agora o título.


“O Apanhador no Campo de Centeio”, prá mim, é uma merda de título apesar de voce ter aprovado, dizem. Mas é melhor do que no português de Portugal: “Agulha no Palheiro”. E muito melhor do que a proposta dos tradutores brasileiros “A Sentinela do Abismo”, bem no estilo pomposo-meloso que todo mundo curte por aqui.


Então mandei ver só “THE CATCHER”.


O livro é meu, o trabalho é meu. Mas te dou essa satisfação,  se por via das dúvidas voce ainda estiver de olho nas coisas por aqui.

Fique na tua aí.

Seu admirador,


Pedro Malanski


Fotos  da encadernação 


Folha de Guarda com marcador do mesmo papel


Capa da segunda edição brasileira


Capa da edição especial em capa dura


Foto da contracapa das primeiras edições americanas
mandou retirar das seguintes 


Última foto conhecida de Salinger, em 2008




E É ISSO.

Frases de J. D. Salinger

It was that kind of a crazy afternoon, terrifically cold, and no sun out or anything, and you felt like you were disappearing every time you crossed a road.

I used to think she was quite intelligent , in my stupidity. The reason I did was because she knew quite a lot about the theater and plays and literature and all that stuff. If somebody knows quite a lot about all those things, it takes you quite a while to find out whether they're really stupid or not.

Pomba, só porque uma pessoa morreu não quer dizer que a gente tem que deixar de gostar dela... Principalmente se era mil vezes melhor do que as pessoas que a gente conhece e que estão vivas e tudo.

As pessoas sempre batem palmas pelas coisas erradas.

O homem imaturo é aquele que quer morrer gloriosamente por uma causa. O homem maduro contenta-se em viver humildemente por ela.

Trecho final de "Um dia Perfeito para um Peixe Banana"

"If you want to look at my feet, say so," said the young man. "But don't be a God-damned sneak about it."
"Let me out of here, please," the woman said quickly to the girl operating the car.
The car doors opened and the woman got out without looking back.
"I have two normal feet and I can't see the slightest Goddamned reason why anybody should stare at them," said the young man. "Five, please." He took his room key out of his robe pocket.
He got off at the fifth floor, walked down the hall, and let himself into 507. The room smelled of new calfskin luggage and nail-lacquer remover.
He glanced at the girl lying asleep on one of the twin beds. Then he went over to one of the pieces of luggage, opened it, and from under a pile of shorts and undershirts he took out an Ortgies calibre 7.65 automatic. He released the magazine, looked at it, then reinserted it. He cocked the piece. Then he went over and sat down on the unoccupied twin bed, looked at the girl, aimed the pistol, and fired a bullet through his right temple.
J. D. Salinger