Diferenças entre a técnica de “CAPA DURA COMERCIAL” e ENCADERNAÇÃO CLÁSSICA de folhas soltas.
No trabalho de encadernador e restaurador clássico, também tenho feito encadernações mais simples com material sintético. Comecei por insistência de clientes.
Depois de restaurar todo o acervo de livros manuscritos antigos e em todos os outros livros cuja importância merecia o uso de couro, sobraram aqueles livros menos manuseados mas de conservação obrigatória e por tempo indefinido. Justamente os livros recentes feitos por impressora, em folhas soltas no formato ofício A4.
A bem da verdade, não é correto denominar esses volumes de "livros”, sendo muito menos apropriado denominar o trabalho como de “encadernação”. Como são FOLHAS SOLTAS, o correto é chamar de “BLOCAGEM”.
Encadernar é costurar cadernos. O resto é enganação de cursinhos rápidos.
A técnica comum usada nestes volumes é a mais simples e básica. É utilizada em volumes para monografias, teses, trabalhos de conclusão de curso, livros contábeis e qualquer outro que envolva folhas soltas.
É mais conhecida como CAPA DURA, por óbvias razões, sendo amplamente utilizada na encadernação comercial.
Sob o ponto de vista da encadernação clássica é a “técnica sem nenhuma técnica” , a “encadernação bastarda” e a desvalorização do trabalho de encadernador, pois custam muito pouco e duram muito menos.
Aplicando técnicas de encadernação clássica ao trabalho de Blocagem de Folhas Soltas, acabei por consolidar um conjunto de procedimentos que resultam em livros mais duráveis, muito mais resistentes e até mais bonitos, apesar de usar quase os mesmos materiais da CAPA DURA.
E pretendo descrever cada etapa do processo.
Miolo ou as folhas soltas do livro propriamente dito.
Organizo as folhas e acrescento duas folhas em branco no início e no fim do livro, do mesmo tipo e marca do volume. Com o tempo as folhas evaporam e amarelam por igual. Servem para proteger as primeiras e últimas folhas do livro em si, evitando que amassem, sanfonem ou manchem por proximidade com a cola e o papelão da capa..
E, MUITO importante: Jamais uso guilhotina, nunca refilo os lados das folhas. Jamais!
O outro método não acrescenta nenhuma folha.
Faço serroteado, com SETE cortes, os primeiros de cada
lado inclinados em direção ao centro do livro.
Aplico cola em toda a lombada. Faço amarração dupla. Aplico novamente cola. Reforço a lombada com diversas camadas de tiras de papel e finalizo com uma tira de papel marmorizado.
A outra técnica apenas fura quatro ou cinco vezes com furadeira elétrica e amarra, passando cola na lombada.
Insiro uma tira de tecido fino e não sintético na amarração próxima à cabeça e outra próxima ao pé do livro.
Este detalhe é o que realmente segura o miolo à capa, impedindo que o miolo caia ou que a folha de guarda se rasgue.
A técnica comercial não usa nenhum reforço.
Sempre passando cola, faço a tira de tecido ficar por cima da folha de guarda, que é profundamente colada sobre os fios de amarração.
A técnica comercial apenas cola a folha de guarda diretamente sobre a primeira folha que faz parte do livro, sem nenhum reforço.
Corto o papelão da capa com cerca de tres milímetros a mais do que o miolo nos tres lados. Corto o lado ao longo da lombada com cinco milímetros a menos do que o miolo e faço um pequeno corte nos cantos internos, ou lado esquerdo, da capa.
A técnica comercial corta o papelão muito maior, não deixa espaço perto da lombada e nenhum corte nos cantos.
Lixo todos os OITO LADOS OU BEIRADAS e os quatro cantos do papelão.
Não deixo nenhuma superfície cortante e arredondo os lados, para que o material de acabamento envolva perfeitamente o papelão e a cola penetre em toda a superfície. Assim o material de acabamento não sofre dano resultante do fio cortante do papelão.
Para a encadernação comercial, lixar as bordas do papelão é perda de tempo.
Uso sempre apenas uma tira de papelão tipo kraft até 350 gr. para fazer qualquer lombada falsa, independente do tamanho do livro. Fica mais maleável e não força o material de acabamento.
A encadernação comercial usa lombadas falsas da mesma espessura do papelão das capas. Tentam disfarçar outras imperfeições, dando a ilusão de solidez, mas apenas serve para dificultar a ação de abertura, provocando um efeito de alavanca que desgasta e rasga o material de acabamento.
O método “a la Brandel”, ou fazer encadernação do miolo e da capa em separado e depois juntar é o único usado na encadernação comercial. É mais rápido e prático.
Tiro as medidas da capa no miolo e junto as duas capas e a lombada falsa através de uma tira de papel kraft fino.
O papel kraft tem fibras longas e resistentes, mas é muito ácido e seu uso deve ser limitado em áreas que não atinjam as folhas brancas do volume, que ficariam manchadas em pouco tempo.
Neste momento, se o volume é muito grande, colo uma tira de tecido por dentro da capa, na cabeça e no pé da lombada.
Em tempo, o papelão deve ser empastelado, ou seja, passar cola aguada no lado de dentro do papelão e colar uma folha de papel, para prevenir o empenamento.
A encadernação comercial mede as distãncias e cola o papelão e a lombada falsa diretamente no material de acabamento, que pode ser vulcapel, tecido ou papel fantasia. Não usa nenhum reforço.
A partir desse estágio, só falta aplicar o material de acabamento. Uso frequentemente o Vulcapel, que é apenas uma folha de papel com uma camada de plástico colorido. É muito frágil e perde o brilho em curto prazo, mas pelo menos é lavável.
São estas as principais diferenças
Como qualquer trabalho de qualidade, exige mais tempo de mão de obra e um ou outro material diferente, custando apenas um pouco a mais do que os trabalhos comuns.
Mas é assim que qualquer encadernador deveria trabalhar, Com mais conhecimento. Com técnica mais apurada. Com respeito pelos livros que recebe.
O cliente não pode ser enganado com encadernações que se desfazem logo que são colocadas na prateleira, que não resistem ao mais simples manuseio e que nem sequer ficam em pé sem apoio.
Toda essa técnica está descrita e prescrita no meu trabalho de NORMAS TÉCNICAS DE ENCADERNAÇÃO que tenho oferecido e sugerido que seja adotada para o bem dos livros, para tranquilidade dos clientes e, principalmente, para valorização do trabalho do encadernador.
No trabalho de encadernador e restaurador clássico, também tenho feito encadernações mais simples com material sintético. Comecei por insistência de clientes.
Depois de restaurar todo o acervo de livros manuscritos antigos e em todos os outros livros cuja importância merecia o uso de couro, sobraram aqueles livros menos manuseados mas de conservação obrigatória e por tempo indefinido. Justamente os livros recentes feitos por impressora, em folhas soltas no formato ofício A4.
A bem da verdade, não é correto denominar esses volumes de "livros”, sendo muito menos apropriado denominar o trabalho como de “encadernação”. Como são FOLHAS SOLTAS, o correto é chamar de “BLOCAGEM”.
Miolo pronto de blocagem de folhas soltas |
Encadernar é costurar cadernos. O resto é enganação de cursinhos rápidos.
A técnica comum usada nestes volumes é a mais simples e básica. É utilizada em volumes para monografias, teses, trabalhos de conclusão de curso, livros contábeis e qualquer outro que envolva folhas soltas.
É mais conhecida como CAPA DURA, por óbvias razões, sendo amplamente utilizada na encadernação comercial.
Sob o ponto de vista da encadernação clássica é a “técnica sem nenhuma técnica” , a “encadernação bastarda” e a desvalorização do trabalho de encadernador, pois custam muito pouco e duram muito menos.
Aplicando técnicas de encadernação clássica ao trabalho de Blocagem de Folhas Soltas, acabei por consolidar um conjunto de procedimentos que resultam em livros mais duráveis, muito mais resistentes e até mais bonitos, apesar de usar quase os mesmos materiais da CAPA DURA.
E pretendo descrever cada etapa do processo.
1 - Miolo
Miolo ou as folhas soltas do livro propriamente dito.
Organizo as folhas e acrescento duas folhas em branco no início e no fim do livro, do mesmo tipo e marca do volume. Com o tempo as folhas evaporam e amarelam por igual. Servem para proteger as primeiras e últimas folhas do livro em si, evitando que amassem, sanfonem ou manchem por proximidade com a cola e o papelão da capa..
E, MUITO importante: Jamais uso guilhotina, nunca refilo os lados das folhas. Jamais!
O outro método não acrescenta nenhuma folha.
2 – Amarrando as folhas soltas
Faço serroteado, com SETE cortes, os primeiros de cada
Serrotado e amarrado, com tira de tecido |
Aplico cola em toda a lombada. Faço amarração dupla. Aplico novamente cola. Reforço a lombada com diversas camadas de tiras de papel e finalizo com uma tira de papel marmorizado.
A outra técnica apenas fura quatro ou cinco vezes com furadeira elétrica e amarra, passando cola na lombada.
3 – Reforço de Tecido
serrotado, com folha de guarda e tecido e arrematado |
Insiro uma tira de tecido fino e não sintético na amarração próxima à cabeça e outra próxima ao pé do livro.
Este detalhe é o que realmente segura o miolo à capa, impedindo que o miolo caia ou que a folha de guarda se rasgue.
A técnica comercial não usa nenhum reforço.
4 - Colocação da Folha de Guarda
tres fases vistas pela lombada |
Sempre passando cola, faço a tira de tecido ficar por cima da folha de guarda, que é profundamente colada sobre os fios de amarração.
A técnica comercial apenas cola a folha de guarda diretamente sobre a primeira folha que faz parte do livro, sem nenhum reforço.
5 – Corte da Capa
Corto o papelão da capa com cerca de tres milímetros a mais do que o miolo nos tres lados. Corto o lado ao longo da lombada com cinco milímetros a menos do que o miolo e faço um pequeno corte nos cantos internos, ou lado esquerdo, da capa.
A técnica comercial corta o papelão muito maior, não deixa espaço perto da lombada e nenhum corte nos cantos.
capas lixadas, unidas e lombada falsa |
6 – Lixamento do Papelão
Lixo todos os OITO LADOS OU BEIRADAS e os quatro cantos do papelão.
Não deixo nenhuma superfície cortante e arredondo os lados, para que o material de acabamento envolva perfeitamente o papelão e a cola penetre em toda a superfície. Assim o material de acabamento não sofre dano resultante do fio cortante do papelão.
Para a encadernação comercial, lixar as bordas do papelão é perda de tempo.
7 – Lombada Falsa
Uso sempre apenas uma tira de papelão tipo kraft até 350 gr. para fazer qualquer lombada falsa, independente do tamanho do livro. Fica mais maleável e não força o material de acabamento.
A encadernação comercial usa lombadas falsas da mesma espessura do papelão das capas. Tentam disfarçar outras imperfeições, dando a ilusão de solidez, mas apenas serve para dificultar a ação de abertura, provocando um efeito de alavanca que desgasta e rasga o material de acabamento.
8 –Capa
O método “a la Brandel”, ou fazer encadernação do miolo e da capa em separado e depois juntar é o único usado na encadernação comercial. É mais rápido e prático.
Tiro as medidas da capa no miolo e junto as duas capas e a lombada falsa através de uma tira de papel kraft fino.
interior da capa, note-se o empastelamento |
O papel kraft tem fibras longas e resistentes, mas é muito ácido e seu uso deve ser limitado em áreas que não atinjam as folhas brancas do volume, que ficariam manchadas em pouco tempo.
Neste momento, se o volume é muito grande, colo uma tira de tecido por dentro da capa, na cabeça e no pé da lombada.
Em tempo, o papelão deve ser empastelado, ou seja, passar cola aguada no lado de dentro do papelão e colar uma folha de papel, para prevenir o empenamento.
A encadernação comercial mede as distãncias e cola o papelão e a lombada falsa diretamente no material de acabamento, que pode ser vulcapel, tecido ou papel fantasia. Não usa nenhum reforço.
Finalizando
A partir desse estágio, só falta aplicar o material de acabamento. Uso frequentemente o Vulcapel, que é apenas uma folha de papel com uma camada de plástico colorido. É muito frágil e perde o brilho em curto prazo, mas pelo menos é lavável.
São estas as principais diferenças
entre os livros que faço e aqueles feitos
por qualquer outro encadernador.
Como qualquer trabalho de qualidade, exige mais tempo de mão de obra e um ou outro material diferente, custando apenas um pouco a mais do que os trabalhos comuns.
Mas é assim que qualquer encadernador deveria trabalhar, Com mais conhecimento. Com técnica mais apurada. Com respeito pelos livros que recebe.
O cliente não pode ser enganado com encadernações que se desfazem logo que são colocadas na prateleira, que não resistem ao mais simples manuseio e que nem sequer ficam em pé sem apoio.
Toda essa técnica está descrita e prescrita no meu trabalho de NORMAS TÉCNICAS DE ENCADERNAÇÃO que tenho oferecido e sugerido que seja adotada para o bem dos livros, para tranquilidade dos clientes e, principalmente, para valorização do trabalho do encadernador.
Atelier. Como fotografar sem todo esse reflexo nos vidros... |