13 de dez. de 2011

A FUNÇÃO de cada coisa na Encadernação.

A boa técnica de encadernação tem uma série de detalhes que aparentemente têm apenas função estética. Na verdade, prestam-se exercer funções importantes, das quais depende a durabilidade e resistência da encadernação e de seu conteúdo, o livro.


I - A função do PAPEL MARMORIZADO na folha de guarda.

O papel marmorizado da forma clássica, ou seja, com uso de tintas à óleo ou esmalte, serve para isolar as folhas do livro da alta acidez do papelão e das colas que unem o livro à capa. Serve ainda como barreira natural contra umidade e pragas biológicas.


A "marmorização" obtida com tintas à base de água não cumpre essa função básica, sendo muito sensível ao aparecimento de fungos.   

O papel marmorizado esconde imperfeições do papelão, disfarça os cadarços, fios da costura e marcas deixadas pela espátula. 



II – A função da NERVURA.

Nervura é aquele relevo deixado na lombada.


A principal função das nervuras é manter a douração longe do atrito com a mesa onde o livro é aberto. 

Isso ocorre principalmente nas obras de grande tamanho e peso, que, antigamente, eram lidas ou até mesmo caligrafadas sobre uma mesa, ficando o título do livro e outras informações gravadas a ouro na lombada longe da superfície da mesa graças às nervuras em relevo. 


III – A função do CABECEADO.

O cabeceado serve como complemento à costura. Também decorrente dos livros de grande tamanho e peso, compostos de folhas de pergaminho ou de papel de muita espessura. Assim o cabeceado mantém unidas as pontas dos cadernos.


Serve para consolidação da costura.

É complementar a função de proteger o espaço entre a lombada e a capa da penetração de sujeira e insetos.


O mau cabeceado é aquele feito com fios grossos que abrem espaço entre as folhas e permitem a penetração de sujeira e umidade. 


IV – A função do corte nos cantos internos da capa.

É necessário proceder um corte de alguns milímetros nos cantos esquerdos (ou internos) da capa e da contra-capa, para prevenir contra a ação de alavanca que a abertura e fechamento do livro provoca, com deformação do papelão, mordendo o couro ou outro material de acabamento.


Em qualquer capa dura já desgastado pelo tempo, a área da capa que sempre está mais prejudicada é aquela próxima aos cantos internos perto da lombada.


V - A função do Pincel para aplicar cola


Há grande diferença entre aplicar cola com pincel ou com rolo.

O pincel aplica a cola profundamente, forçando a penetração da cola nos microporos do papel e do couro.

Microscopicamente, parecem tentáculos que penetram fundo nos poros e para isso é necessário passar o pincel diversas vezes em todos os sentidos.

Com o rolo a aplicação é superficial.

VI - A função do Carinho na encadernação

 A principal função da boa encadernação é proteger carinhosamente o livro.

Tenho visto capas grossas e materiais robustos, costuras exageradas e cabeceados grosseiros. 
Um vídeo mostrando um velho livro com a lombada sendo arredondada a martelo e depois refilado na guilhotina sem piedade, é tido como correto.
Dezenas de outros vídeos infestam o you tube com técnicas parciais e até danosas aos pobres livros.  
Cursos de encadernação de poucos dias ensinam técnicas primárias e equivocadas, com resultados ingênuos.

Algumas encadernações parecem mais uma PENITENCIÁRIA destinada a oprimir e penalizar o livro.

Uma encadernação deve complementar a proteger o livro OU QUALQUER OUTRA PEÇA encadernada.

Portanto, a interferência do encadernador será sempre carinhosa, 
evitando superfícies ásperas,

arredondando os cantos do papelão,

obedecendo a simetria nas costuras,

usando papel cartão fino e maleável na lombada,

evitando cabeceados grossos,

 deixando espaço entre a capa e a lombada 
para que o livro abra sem esforço.

Pois, se cada gesto ao encadernar não é de carinho e respeito, é apenas cruel, mercantil e grotesco.

30 de nov. de 2011

Encadernação

A boa técnica de encadernação clássica  implica numa sequência de procedimentos realizados de maneira correta e segura.
Com a banalização do livro nos últimos quinhentos anos, banalizou-se também a técnica, ficando reservada aos livros de grande valor bibliográfico ou documental.
Novos procedimentos passaram a ser adotados nos livros comuns, bem como novos materiais. O Encadernador passou a exercer outros ofícios, como o de Restaurador e de Dourador, na tentativa de agregar valor à sua atividade.
A grosso modo, identificamos que existem atualmente três escolas, ou vertentes da Encadernação. A Clássica, a Decorativa e a Comercial.



Clássica de Florindo & Costa
A Encadernação Clássica


Aquela onde são utilizadas técnicas manuais demoradas e elaboradas, com utilização de materiais nobres e absoluto respeito à obra encadernada. 


A Encadernação Decorativa


Bela e apropriada "Contemporânea" de Sergio Pitol,
Utiliza-se de princípios elementares da encadernação clássica, privilegiando o efeito decorativo segundo preferências pessoais do encadernador, a partir de sua etnia e cultura particular ou das tendências e modismos de seu tempo. É também chamada "Encadernação de Arte" ou "Contemporânea" e faz uso indiscriminado de materias nobres e sintéticos.



Comercial
A Encadernação Comercial


Conjunto de técnicas básicas que se utiliza de materiais sintéticos e privilegia o baixo custo e a padronização, indiferente ao conteúdo e valor da obra encadernada. Atende à demanda por livros didádico-acadêmicos, fiscais e obras populares.
São suas características a fragilidade e o baixo custo.

Com a banalização da arte de encadernar, vem ocorrendo a perda de seus valores básicos e a confusão entre estas três escolas de encadernação.

Encadernação mista

Imitação de Clássico, A.Solarov
Encadernações que meramente imitam o design clássico, com aplicações de ferros, marcações e dourações sobre material sintético.



Ao confrontar qualquer pessoa que se utiliza regularmente de serviços de encadernação, enfrento o pior inimigo de todos os encadernadores: A IGNORÂNCIA. 

Tenho constadado que o cliente, seja ele um bibliófilo, um cartorário e qualquer pessoa leiga, não tem a menor idéia do que seja um "livro" e o que seja "encadernação" pois até então conhece somente encadernações comerciais frágeis e efêmeras.


Prova dessa realidade é demonstrada num vídeo recentemente divulgado, mostrando um livro sendo desmontado, reparado, costurado, recebendo indefectível cabeceado e uma capa em tecido.

É necessário alertar aos meus clientes e amigos, que essa não é a técnica clássica de restauração. É uma técnica de reparação, parcialmente correta.


Utiliza-se de diversos procedimentos inadequados, como:
* Passar pó de borracha para limpeza diretamente com as mãos, transfere ao papel a gordura dos dedos.
*  Aplicar papel de arroz diretamente sobre o texto com cola ácida, aparentemente de base PVA.
*  Usar tiras de tecido coladas e enrroladas, para a costura, que são muito abrasivas e ferem as folhas frágeis do velho livro.
* Colar a folha de rosto nova diretamente ao longo da lateral da primeira e da última folha do livro, provocando o sanfonamento da primeira folha do livro.
*  Bater a lombada de um livro de folhas frágeis e quebradiças e DEPOIS de colar.
Cabeceado grosso
*  Costurar o cabeceado com grossos fios abre brechas para entrada de poeira, insetos, umidade e acelera o ressecamento do papel.
* Usa folha em branco para a guarda, mas deveria ter usado uma folha de guarda envelhecida e da mesma cor do resto da obra ou uma folha marmorizada, protegendo o livro da acidez das colas da capa.
* Rejeitou o couro original e usou o papelão velho. O couro original precisa ser conservado, mesmo um fragmento, e é adequado usar papelão novo para dar mais estrutura ao livro. Mas não! Jogou o couro fora e usou o papelão!
* A jovem trabalha com pó de borracha e limpa com escova SEM NENHUMA PROTEÇÃO.
* Por fim, dá acabamento ao trabalho com TECIDO comum, que não respeita a integridade da obra centenária, nem sua história. Seria obrigatório usar couro parecido com o original.


Não sei a origem do vídeo, sem som, e acredito que os encadernadores não tiveram a pretensão de que esse fosse um trabalho de restauração. É apenas um trabalho de conserto, provavelmente de orçamento limitado. 

Limpando com Proteção

reliure classique
classic bookbinding


 

23 de nov. de 2011

Manifesto da Encadernação Clássica

Para que não sejam esquecidas e abandonadas as boas técnicas da encadernação clássica tradicional.
Defendendo as boas técnicas que asseguram aos livros Longevidade, Qualidade e Beleza.




Ou no texto:

Manifesto da Encadernação Clássica

1 – Todos os livros serão encadernados obedecendo as técnicas elementares da Encadernação Clássica.

2 – Todos os livros receberão a adição de uma folha de guarda, uma folha de rosto e uma folha adicional, tanto no início como no fim.

3 – Nenhum livro terá lombada falsa de espessura igual à das capas, não podendo exceder a espessura de um papel cartão.

4 – Todas as capas terão as laterais e os cantos do papelão previamente suavizados e arredondados.

5 – Nenhum livro será cortado ou refilado e fica abolida a guilhotina.

6 – Somente os trabalhos feitos de cadernos costurados serão chamados de “Livros”.

7 – Trabalhos feitos com folhas soltas amarradas ou coladas serão chamados de “Blocos”.

8 – Trabalhos com acabamento em material frágil receberão reforço interno em tecido ao longo da lombada.

9 – É obrigação profissional e compromisso ético de todo encadernador preservar a integridade dos livros que lhe são confiados, jamais mutilando ou desfigurando a obra original, conservando todos os seus componentes e informações.

10 – Todos os esforços são justificáveis para preservação das técnicas clássicas.


Se fosse enumerar todos os itens que são imprescindíveis em QUALQUER ENCADERNAÇÃO, não só nas clássicas, não seria mais um decálogo.
Se fosse criticar os cursos básicos de "encadernação" que proliferam em todo lugar, transmitindo aos bem intencionados leigos ensinamentos errados, parciais e prejudiciais aos livros, perderia muitos amigos e seria evitado por ser muito radical.
Enfim, esse é um trabalho aberto a sugestões e críticas, pois quem fala o que não deve ouve o que não quer.

11 de nov. de 2011

Monotipias Recentes

Antes que virem folha de guarda nas minhas encadernações.

Monotipias, ou marmorizados, técnica de tinta esmalte sobre papel, todas no tamanho 66X96 cm.





O Livro Torto

Curiosidade.

Um livro pode ser torto.


Ou nem tanto.




Técnica de Encadernação - A Capa


Técnica de Encadernação

A Capa

Um dos elementos mais evidentes em qualquer encadernação clássica, é o papelão para as capas.
Originalmente as capas dos livros eram feitas de pranchas de madeira ao natural ou recobertas de materiais nobres, como couro, linho, pergaminho, velino, ferros decorativos e placas de metais nobres.
Com a popularização do livro e suas diversas conseqüências, entre elas, a logística, o barateamento e o processo inteiramente industrial para fabricação do livro, o papelão foi adotado como elemento da capa e persiste sendo usado até hoje.
Há diversos tipos atualmente à disposição.

O Papelão Cinza

O “papelão cinza” feito de celulose e a partir da polpa de pinus eliotis é o mais utilizado na encadernação “comercial”. É muito ácido, de qualidade que vai de regular a péssima, conforme seu fabricante e mesmo conforme a variação de humor do mesmo fabricante.
Assim como acontece com o papel, a qualidade vem se perdendo. A massa recebe cada vez menos colas aglutinantes e o papelão se apresenta cada dia que passa mais poroso e mole, o que se pode constatar ao primeiro olhar,  pois sua cor é mais para um azul claro ou um cinza claro, do que o velho e bom cinza escuro de antigamente.
Afianço que não uso esse tipo de papelão.

O Papelão Couro

Assim chamado por sua cor castanha, marrom claro, é feito de cascas de arroz ou trigo. Gosto de usar esse material por ser mais denso do que o cinza. Realmente é duro e resistente à deformidade. Também sofre variações de qualidade, com mais ou menos cola aglutinante, pois tenho pedaços mais antigos que são muito mais densos do que aquele que acabei de comprar. Coisas do baixo controle de qualidade e da falta de padrão de nossa brava indústria nacional.
Esse papelão permite capas mais finas, mas muito mais firmes e resistentes do que o papelão cinza, o que é uma característica útil quando se pretende economizar espaço em uma prateleira.
Regra de Ouro para usar o Papelão

Ao cortar o pedaço de papelão para o livro, verificar sua tendência de empenamento. O papelão tende a dobrar-se e empenar sempre na direção do lado de baixo, onde houve maior acúmulo de cola durante a prensagem, quando foi fabricado. É um pouco mais liso ou um pouco mais escuro do que o outro lado.
Se errar de lado, o papelão vai vergar ou empenar para fora e o livro vai ficar com aquelas asas estranhas, principalmente quando a umidade ambiente estiver baixa.
  
O Preparo do Papelão para as Capas

Escolhido o lado, o papelão deve ser lixado em todos os seus 12 LADOS.
Pois cada pedaço de papelão tem mesmo DOZE LADOS: os quatro lados da frente, os quatro lados do verso e os quatro cantos.
Os lados ou cantos da frente ou parte de cima da capa, devem ser lixados até que as bordas fiquem bem arredondadas, na proporção da grossura do papelão ou para alcançar o efeito desejado pelo encadernador.
Os lados de dentro podem ser lixados apenas o suficiente para tirar o fio cortante que ficou depois do corte do papelão, ou ainda conforme o efeito que o encadernador quiser obter.
Os cantos internos, perto da lombada, devem ser cortados em alguns milímetros e lixados. Esse corte impede que o canto “morda” o couro e cause um efeito de alavanca que força a lombada.
Os cantos à direita devem ser arredondados.


Capa lixada e lixas


Material para Lixamento

Costumo usar lixas grossas, coladas em um pedaço de papelão que caiba em minha mão.
É uma fase bem trabalhosa da encadernação, mas resulta em um todo mais orgânico, mais ergonômico, que não corta o material de acabamento. Muito da aparência de "antigo" de alguns livros, deve-se ao detalhe do arredondamento das capas por lixamento. Infelizmente essa foi uma - das muitas - boa técnica abandonada por dar mais trabalho ou que foi simplesmente esquecida pela encadernação comercial.


Enfim

Aprendi esse detalhe da boa técnica no livro “Encadernação” da grande mestra Zelina Castelo Branco e desde então nunca fiz um livro que não fosse trabalhado dessa forma, seja ele o mais simples livro de cartório ou o mais precioso livro raro.
Sempre experimentando, encadernei esse mesmo livro com capas exageradamente grossas e lixando o máximo. Como detalhe, usei lixa envolvendo um cano de metal para fazer as depressões nos lados.

Canto interno, cortado e arredondado
Cantos direitos arredondados






















"Encadernação", de Zelina Castello Branco, ficou assim
 

7 de set. de 2011

O maior Livro do Mundo

O maior Livro do mundo foi o título dado à peça de propaganda apresentada no Bienal do Livro de 2011, no Rio de Janeiro.
Trata-se de uma obra impressa "medindo mais de 3 metros e pesando 1.420 kg", com paginas que devem medir uns dois metros de altura e um metro e pouco de largura.

Como qualquer pretexto é válido para esclarecer, devo afirmar que NÃO É UM LIVRO.

Um livro é constituído de folhas dobradas, que formam cadernos, que são costurados uns nos outros e encapados.
A peça em questão é apenas uma PASTA, ou seja, cada uma das enormes folhas soltas foi envelopada num enorme envelope de plástico ou acetato. A seguir, os envelopes foram presos a uma enorme capa.
Se as folhas estivessem apenas amarradas, sem nenhum envelope, ainda não seria um livro e muito menos uma pasta, seria apenas um BLOCO.
Logo, esta pasta não é um livro e não deveria ser assim considerado pelo Guinness 2011, conforme noticiado.

Mas, que seja então a Maior Pasta do Mundo.

15 de ago. de 2011

Reportagem mostra livro que fiz.

Se seu cartório for visitado por uma equipe de reportagem, é bom ter os livros bem restaurados para mostrar.


Foi o que aconteceu na noite de 14/08/2011 no programa Revista RPC, aqui de Curitiba.


O Tema era "Pais não conseguem registrar filha com nome considerado exótico", sendo consultado o titular do Primeiro Ofício, que expôs um dos livros de Registro de Nascimento que reparei e encadernei.

Dê uma olhada.

REVISTA RPC

7 de ago. de 2011

Restauração e Recuperação

Por interesse particular, sempre gostei de salvar velhos móveis, pois eram feitos com técnicas hoje desprezadas pela indústria e com materiais nobres. Cadeiras eram minhas preferidas. Para obter o resultado ideal, procurava sempre respeitar as características originais do móvel. Se o acabamento era em verniz brilhante, não importava a moda do momento preferir acabamento fosco. O restauro tinha por objetivo conservar.

Em móveis, talvez em automóveis ou em estátuas de uma igreja, o restauro é inteiramente possível. Dá um pouco de trabalho ir atrás de vernizes, madeiras semelhantes, peças de motor ou itens de acabamento, mas não é muito caro nem irrealizável. Aliás, cristaleiras, carros e santos são mais duráveis e feitos de materiais ainda abundantes.

Com livro, o problema é muito maior. O papel é muito frágil, mesmo aqueles pré-industriais. Além disso, raramente um papel é igual a outro, mesmo fabricados em idênticas condições a partir da mesma matéria prima.  A costura da encadernação, com o tempo, fere as folhas. As colas ressecam e cedem. O couro resseca e esfarela. A douração desaparece. Como restaurar, ou seja, recuperar todas as características originais de um livro, seja na costura, nos tipos de papel, no couro e no acabamento? É um processo proibitivamente caro, reservado a pouquíssimas obras de grande valor que, mesma magistralmente restauradas, perdem valor no final do processo, pois uma das principais qualidades de um livro raro é ter resistido e aparentar a passagem do tempo sobre ele.

Soubessem da dificuldade de encontrar um legítimo couro português, obtido a partir de uma cabra, com a espessura e a textura exata, não falariam em restaurar. Já vi desmontarem livros de menor valor para usar em outro. Sem falar em obter o mesmo tipo para douração e os ferros de relevo.

De qualquer forma, salvo minha ignorância, restaurar inteiramente um livro, na inteira acepção da palavra, deixando-o igual ao dia em que veio ao mundo, não é realizável.

Assim, é preciso encarar que é possível consertar um livro destruído e sobre ele colocar uma capa que dialogue com o tempo em que foi feito e com seu conteúdo, mas não é razoável restaurar completamente, mesmo que os recursos financeiros, técnicos e logísticos sejam abundantes. Uma “obra restaurada” apresenta marcas de interferência, materiais discrepantes e detalhes que denunciam não ser um objeto original.


Se há livros raros e antigos que precisam estar expostos para fruição da Sociedade em Museus, há livros raros e antigos que precisam ser seguidamente consultados, pois ainda têm valor como documento. Estes livros precisam receber tratamento que respeite sua integridade e lhes confira solidez, nestes casos sendo indicado procedimentos de RECUPERAÇÃO do livro.

O processo de recuperação aceita que se interfira com materiais contemporâneos nesses livros antigos, pois tem por finalidade proceder os consertos de folhas rasgadas, sanfonados, devoradas, com muitos fragmentos perdidos. A capa deve ser firme, fina e leve, com papelão de alta densidade. Por exemplo, com uso de papel de arroz, colas atuais de acidez neutra, uso de couros, tecidos e materiais sintéticos no acabamento.



22 de jul. de 2011

Livros com BHC e DDT - Um Alerta!

ALERTA AOS TITULARES E EMPREGADOS DE CARTÓRIOS
O PERIGO DE LIVROS CONTAMINADOS


Num post anterior, abordei o assunto da contaminação de bibliotecas por agentes tóxicos, principalmente o BHC e o DDT. Fui genérico na abordagem e citei casos reais, mas o problema é mais específico, exigindo ação urgente.

Em minha atividade já encontrei alguns exemplares de livros que apresentavam leves resquícios de contaminação, principalmente por se tratar de exemplares onde um encadernador anterior já havia trabalhado. Assim, as capas originais já haviam sido retiradas e as folhas refiladas, locais onde se concentrava a maior parte do pó de BHC ou do DDT.
*
No momento, estou atuando num acervo de livros de cartório que nunca sofreram interferência e tenho encontrado grandes quantidades do material tóxico ainda presentes. São livros de cartório antigos, desde 1898. Em algum momento entre os anos 60 e 80, foi utilizada generosa quantidade de pó de BHC para eliminar os cupins e brocas dos livros. Este pó foi aplicado principalmente na lombada, por dentro da capa, permanecendo ali até hoje.
Nesta semana, ao desfazer um desses livros para o restauro,encontrei uma quantidade exagerada de pó de BHC entre as folhas e no interior da lombada. O cheiro e a cor ainda eram os caracteristicos do produto. Apesar de imediatamente tomar precauções ainda sinto os efeitos do veneno nos lábios, que estão levemente inchados. O BHC e o DDT tem efeito residual indeterminado e podem permanecer com a mesma toxicidade indefinidamente.
*
Fatalmente, cada vez que alguém consulta um desses livros, termina por fazer contato com o pó, pois mesmo os mais antigos são obrigatoriamente consultados para a emissão de certidões e anotação de averbações, fato que ocorre diariamente nesse cartório e em qualquer outro.
*
Os danos à saúde são imediatos, bastando um só contato para fazer mal à mucosa bucal e nasal. O contato prolongado e diário provoca lesões profundas no organismo humano e doenças normalmente fatais, como o câncer. Há estudos extensos, disponíveis à mais superficial pesquisa.
*
Portanto é preciso reconhecer que o problema existe em muitos cartórios por esse Brasil afora e tomar providências para salvaguardar a saúde das pessoas que manipulam esses livros e qualquer pessoa que frequente o ambiente. O pó é volátil, se espalha por todo o ambiente com facilidade a cada manuseio e é danoso mesmo em pequenas quantidades.
*
O alerta serve principalmente aos novos titulares de cartório que estão assumindo cargos por concurso e que não tem conhecimento da história do cartório.
Seria crucial saber da incidência de doenças respiratórias, de alergias e mesmo do histórico de pessoas ligadas ao cartorio que desenvolveram câncer. Infelizmente, os resultados de uma pesquisa dessa natureza iriam revelar que há coincidências.

Porém, há um problema de ordem prática: esses livros são documentos públicos que devem ser usados regularmente pelo cartório e não podem ser simplesmente INTERDITADOS, como nos obrigaria o bom senso.
O uso de máscaras, luvas, roupas e toucas para manipular com segurança um livro infectado é inviável para qualquer cartório, não sendo nem um pouco eficientes.
*
Resta o recurso de proceder a limpeza do livro por profissional, eliminado as capas antigas e o excesso de veneno.
Em seguida, os livros devem ser digitalizados para consulta futura e guardados em embalagens plásticas, fora do alcance de todos e ficando disponíveis apenas para verificações que sejam justificadamente necessárias e com todos os cuidados possíveis.
Tal providência é urgente e necessária.
*
 Há um bom estudo sobre o assunto no artigo DDT (DICLORO DIFENIL TRICLOROETANO): TOXICIDADE E CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL - UMA REVISÃO
*
É um assunto sério e que deve ser enfrentado para preservar a SAUDE e mesmo a VIDA das pessoas.
*
E podem me chamar de "Doutor Livro" se lhes aprouver, mas o assunto é sério.
*
Outros links
Blog do servidor público
Brasil Escola

26 de jun. de 2011

Cuidados com os livros no clima seco

Neste inverno, o clima promete ser frio e seco na região sul e centro-oeste.
O papel sofre com a ação do clima seco, muito mais intensamente do que com o clima húmido.
Para minimizar o processo de ressecamento, seria ideal que fossem mantidos em ambiente controlado, com a Temperatura entre 16º C e 21º C e Humidade Relativa entre 45% e 60%, mas não conheço quem se disponha a esse cuidado, que é dispendioso e impraticável, pois os livros são de manuseio intenso.
Não pretendo abordar a conservação de livros em museus e bibliotecas de raridades inestimáveis, que utilizam maquinaria pesada, procedimentos técnicos avançados e pessoal qualificado.
Os cartorários e os felizes leitores podem pelo menos adotar a seguinte precaução:

1 - Manter o livro em pé

Para oferecer a menor área possível à ação do tempo, o livro deve ser posto sempre em pé, junto a outros livros de tamanho semelhante e levemente apertados uns contra os outros.
Muitos cartórios têm cometido o erro de guardar os livros deitados, seja por estarem muito deteriorados ou simplesmente para facilitar o manuseio de livros muito pesados.
Oferecendo muita área a ação do clima, as folhas do livro entumecem (incham) com a humidade e ressecam com o tempo seco, ficando cada dia mais onduladas e separadas umas das outras. Nesta posição, o processo normal de evaporação da celulose é bastante acelerado, permitindo a entrada de poeira e tornando o papel quebradiço muito rapidamente.
Em pé.oferece apenas a superfície do alto do livro.
Tenho trabalhado livros de 1960 em adiantado estado de ressecamento e com as folhas sujas de poeira, resultado da guarda inadequada. Muito acabados para a idade.
Portanto, seja qual for o estado do livro, mantenha-o sempre em pé e apertado entre outros livros.



22 de mar. de 2011

História de Curitiba

Os registros públicos contém a história dinâmica de nossa Sociedade.

Contribuindo para a divulgação desses registros históricos, apresento o primeiro casamento oficiado no primeiro cartório de nossa cidade.

O papel deste livro de cem páginas foi produzido pela fábrica de Blanchet Frères et Kleber, em Rives,  França, conforme marcas d'água bem visíveis. Fundada em 1820 produzia papéis de excelente qualidade, como ainda pode ser comprovado por permanecer flexível depois de pelo menos 120 anos. Está bem amarelado, mas não tem manchas de oxidação, apenas manchas resultantes da gordura dos dedos que o manusearam.

O livro foi encadernado originalmente nas oficinas de G. Leuzinger e Filhos, fundada em 1840 no Rio de Janeiro. pelo suiço George Leuzinger, fotógrafo e empreendedor de empresas gráficas, com grande contribuição na fotografia e gravura, também editava livros com qualidade superior.

Passou por uma interferência inadequada, para dizer o mínimo, talvez por volta dos anos setenta, quando a capa original foi substituída, assim como qualquer outro registro de procedência. Graças à boa qualidade do papel, o livro envelheceu com dignidade, não precisando de muita interferência de restauro.


Livro um, de 1890.

A etiqueta do encadernador, possivelmente fazia a pautação das folhas e o corte especial com aplicações das letras do índice. 


Outra etiqueta de um concorrente da época,  Casa Garraux, fundada em 1860,
em São Paulo.


*

21 de mar. de 2011

Salvando Livros de Inundação

Melhorei esse post depois de colaborar na Revista Superinteressante,edição de Junho/2011, sobre o tema: 

Recuperação de Livros Molhados
Livros Salvos de Inundação
Secagem de Livros Oficiais 
.
Com as inundações flagelando tanta gente nesse ano de 2011, resolvi dar uma repaginada nesse post, tornando-o mais prático.
 
São muitos os eventos que podem desencadear a inundação de um acervo de livros. Problemas de encanamento, ar condicionado defeituoso, goteiras e infiltração do apartamento vizinho afetam os livros de forma superficial e quase sempre de forma localizada. Contudo, as inundações que tem ocorrido em muitas regiões nesta temporada tem atingido acervos de bibliotecas e cartórios. As bibliotecas são constituídas de livros comuns que podem ser repostos, mesmo se esses livros são livros raros ou dispendiosos. Mas os cartórios guardam documentos importantes, os registros públicos únicos e insubstituíveis.
Em qualquer caso, o tempo é essencial para salvar o acervo.
A água pode causar danos desproporcionais à quantidade. Misturada a terra e sujeira, encharca o papel, devendo ser desinfetado para futuro manuseio. O bolor forma-se normalmente a uma temperatura a partir de 21ºC e umidade relativa de 65%, mas pode formar-se em menos de 48 horas depois de uma inundação.


Mas não é apenas o bolor que representa problema. Numa inundação tudo é contaminado por outras pragas, sujeira e bactérias. Mesmo na água que por acaso escorre de um aparelho de ar condicionado que funciona mal ou de uma goteira do telhado pode haver urina de rato. Assim, podem causar doenças sérias com danos à saúde e até mesmo a morte.


Portanto, em primeiro lugar, avalie com critério rígido o que TEM QUE SER RECUPERADO. É preferível PERDER UM LIVRO OU QUALQUER OUTRO OBJETO do que manuseá-lo demais, MESMO COM PROTEÇÃO. Porisso indico o congelamento: não exige muito manuseio.


Se você tiver recursos, se o material é imprescindível, como no caso de Cartórios, siga os seguintes procedimentos:


1-Parar o fluxo de água e afastar a água da zona infectada;
2-Garantir a segurança do pessoal que entra na zona inundada com água parada, usando botas impermeáveis e nunca manuseando os livros atingidos sem proteção de luva de borracha;
3-Retirar o material molhado da zona inundada de maneira ordenada;
4-Pressionar cada livro para retirar o excesso de água, guardar em engradados plásticos com empilhamento de 30 cm no máximo, se muitos, em bacias ou recipientes plásticos abertos e levar para congelamento;
4-Iniciar o processo de Congelamento ou secar o material dentro de 24 horas, com gelo, secagem à vácuo, ou à mão;


Para livros ou qualquer objeto de papel, como álbuns, documentos soltos, deve ser usado o compartimento de congelamento de um refrigerador frost-free caseiro, usualmente de -14ºC. O processo pode durar até dez dias. Existem empresas que podem ceder ou alugar espaço em suas câmaras de até -29ºC, como supermercados, distribuidores de frios e carnes, o que garante maior rapidez no processo e destruição absoluta de todos os insetos e fungos.


O ventilador pode ser usado em fotografias ou documentos soltos, desde que antes seja lavado com esponja umedecida em detergente bactericida. Em livros, não funciona, pois não evita o entumescimento (tumefação) das folhas, as folhas incham e não voltam à espessura original, ficando o livro iremediavelmente deformado e as folhas escurecidas. O pior é que, mesmo depois de seco, o livro fica realmente fedorento e ainda está contaminado. Como as fibras ficaram comprometidas o papel vai ficar quebradiço e frágil




Diplomas, gravuras, telas e documentos importantes podem ser lavados em esponja umedecida em detergente bactericida,  depois colocados entre folhas de toalhas de papel, pressionando-as levemente. Trocar as toalhas de papel até que esteja o mais seco possível e deixar secar completamente em ambiente arejado. Não deixar sob o sol, pois o papel vai amarelar por oxidação.


Para retirar manchas de oxidação, deixar em água de torneira corrente por alguns dias até branquear por ação do cloro na água.


Livros feitos de papel couchet, por exemplo, como o material de revistas, se molhados as folhas grudam umas às outras e podem ser considerados perdidos sem remédio.

Assim, é preciso agir nas primeiras 6 HORAS após a inundação. Há autores que estendem o prazo por até 24 horas, mas a ação deve ser imediata.
Ao contrário do senso comum, não deve abrir o livro ou levá-lo para o sol, nem usar secador ou ventilador.
O melhor método é o de SECAGEM POR CONGELAMENTO A VÁCUO.
O livro deve ser colocado para congelar um câmara frigorífica frost-free a -20ºC, ou mesmo num freezer que funcione no sistema frost-free, existem muitos modelos à venda. Esse sistema funciona retirando a umidade e mantendo a temperatura de congelamento.
Se encapados com tecido, podem ser empilhados diretamente. Se é encadernação com uso de vulcapel (plástico), devem ser separados por uma folha de papel para assar carnes ou mesmo por uma folha de alumínio. É aconselhável o empilhamento em colunas com espaço entre si, para evitar que os livros fiquem deformados.
*
No vácuo e a menos de 0ºC, ocorre o fenômeno de SUBLIMAÇÃO, quando os cristais de gelo evaporam sem liquefazer e a umidade é retirada do ambiente.
O processo pode demorar mais de dez dias, conforme a quantidade.
Depois de secos, devem passar por desinfecção, limpeza e reencadernados, se necessário.


Se o seu acervo for atingido, procure um supermercado, um distribuidor de frios, dentre empresas que tenham câmaras frigoríficas à vácuo. Solicite auxilio ou alugue espaço nesses locais.


LEMBRE-SE: PENSE PRIMEIRO EM SUA PROTEÇÃO E SEGURANÇA
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OUTROS MÉTODOS
Exitem métodos para secagem de livros e  documentos molhados. Contudo, nenhum deles RESTAURA o material, pois qualquer que seja o procedimento, o material não recupera a mesma condição anterior ao evento.
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SECAGEM AO AR
Para documentos em folhas separadas, pequenos livros ou moderadamente umidos. O livro é prensado para retirar o excesso e desmontado.  As folhas são limpas,  espalhadas, cobertas com tecido ou papel toalha e submetidos a ventilação constante. Demanda muito cuidado para que não rasgue ou fique distorcido e amplo espaço para trabalho. Pela aplicação de mão de obra, é trabalho de alto custo.
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DESUMIDIFICAÇÃO
Tambem para livros moderadamente molhados. Consiste em usar máquinas de desumidificação a frio diretamente no ambiente. É o método mais precário.
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SECAGEM POR CONGELAMENTO
Usado nos livros ainda úmidos numa câmara frigorífica  Os livros precisam ser congelados ainda molhados, apertados e separados com papel de congelamento, levados à câmara frigorífica com temperatura por volta de -23 graus, para reduzir distorções. O processo leva até algumas semanas.
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SECAGEM TÉRMICA A VÁCUO
É necessária câmara especial para o processo. Consiste em submeter o livro ainda molhado e congelado a um ambiente a vácuo, com uma fonte de calor. Para materiais muito danificados pela água, é a melhor solução, mas exige ambiente especial e equipamento semelhante ao ar condicionado. Não evita tumefação e fundição do papel.
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RESTAURO E ENCADERNAÇÃO
Em todos os casos, será necessário reencadernar os livros, restaurando-os no processo, pois a água dilui as colas usadas, seja ele a orgânica e mais antiga, seja a cola branca mais moderna.
Além disso, a restauração vai desinfetar e limpar as folhas, permitindo que o livro possa ser novamente manuseado, bem como a encadernação vai proteger as frágeis folhas sobreviventes da inundação.
Todo o livro molhado fica mais frágil e é dispendioso e demorado fazer todo o restauro necessário. Por exemplo, o processo de limpeza e branqueamento é feito folha por folha, cada uma delas devendo ficar por dias debaixo de ÁGUA CLORADA CORRENTE. Sendo técnica utilizada apenas para livros raros, gravuras valiosas e documentos históricos. É impraticável quando o material comprometido é abundante mas os recursos financeiros são limitados.
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É LEITURA OBRIGATÓRIA a todos os responsáveis por documentos públicos, o "Caderno Técnico" do Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos. Ali são descritos cuidados, técnicas e procedimentos que devem ser adotados em caso de inundação.
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SALVANDO LIVROS
Tenho lido relatos de cartorários e suas providências para salvar o acervo.
Passado o desespero inicial, adotaram práticas tardias, como secar com papel absorvente, folha por folha, encadernando com técnica ligeira e outros procedimentos ingênuos apesar de utilizados por técnicos na área. Cuidado na escolha da solução! Pode ser mais ampla e simples, com menor custo e qualidade superior na encadernação, respeitando a integridade do livro. Não permita que explorem sua aflição com soluções dispendiosas.
PROCEDIMENTOS DE RECUPERAÇÃO
Os procedimentos adotados em Paraitinga, São Paulo, para os livros encharcados em inundação, obtiveram os resultados que a equipe de encadernadores haviam estabelecido.
O livro apresentado pela equipe, apresenta-se limpo, ligeiramente entumecido, tendo sido refilado para limpeza das laterais das folhas, o que é visível pelo pouco espaço de margens. A técnica utilizada para manter as folhas coesas e manuseáveis, foi a de Pasta, que consiste em PERFURAR as folhas e uni-las por parafuso. Logo, não é um Livro e nem um Bloco. A capa é de papelão cinza coberto por vulcapel, com revestimento interno apenas em papel branco, podendo ser visto um exemplar ainda sobre a mesa.
Tendo por critério a resistência do volumoso livro ao manuseio, a Pasta é frágil pelos seguintes motivos: Se guardado em pé na prateleira, os furos vão ceder, as folhas vão se apoiar diretamente na prateleira, as capas vão ficar puídas e o vulcapel vai rasgar na retirada e colocação do livro.
Qualificar o resultado obtido como "restauração", não é apropriado, pois não foram respeitadas as características originais dos livros, provavelmente dos anos de 1950 em diante, tarefa que demandaria maiores conhecimentos da equipe e que jamais seria satisfatoriamente concluida pelas limitações de material adequado às quais todos os encadernadores atuais estão sujeitos.
A técnica que eu utilizo é a de unir as folhas por serrotagem e amarração, utilizando capas tradicionais de material mais resistente, como couro e tecido, que não representam custo muito maior e dão ao conjunto (ainda não um Livro, mas um Bloco) resistência ao manuseio, preservação do conteúdo e longevidade indefinida.