5 de nov. de 2022

Estojo para o meu novo violão

 Achei melhor fazer um estojo para o meu novo e moderno violão.

É um violão acústico Tagima. Com recursos elétricos, braço fino, ideal para folk e blues.

Um estojo para guarda e proteção do violão, também é ótimo para guardar sem alterar a afinação e evitar umidade.

Estojo mais uma vez feito inteiramente com materiais de encadernação. 


Estojo sob medida para violão



Estojo para violão.
Papelão, papel marmorizado e vulcapel. 







Detalhe de uma caixa para guardar
pestanas, cabos, pilhas, cordas e
apoiar o braço do violão.


19 de set. de 2022

Um Estojo para meu Violão

Quando um encadernador precisa de um estojo para seu violão, ele mesmo faz.

Herdei este violão de meu avô, José Pinto de Carvalho, o vô Gegé.

Grande violonista, desde pequeno eu o ouvia tocar.

E há 45 anos eu toco.

Acredito que este Del Vecchio, elétrico, deve ter uns 80 anos, pelo menos. Portanto é compreensível que esteja com os trastes desgastados, o braço marcado pelo tocar constante e as catracas não seguram mais a afinação, além de precisar de um restauro da caixa e um bom verniz novo. Assim, devo encaminhar este instrumento para um bom luthier.

Enquanto isso, vai estar bem acomodado neste estojo que fiz sob medida.

Estojo para meu Violão 

Todos os materiais utilizados no trabalho são aqueles comuns na encadernação.

Papelão para a caixa, papel marmorizado com tinta esmalte sintético para os acabamentos internos e externo, mais o Vulcapel de cor vinho para acabamento externo.





Como é o primeiro trabalho deste tipo que faço, tem algumas imperfeições que eu não repetiria num segundo trabalho semelhante, pois a gente só aprende a fazer depois que termina e de muitas tentativas.

De agora em diante, vou continuar judiando do novo violão.


E a vida segue.

 

19 de ago. de 2022

Técnica de Costura com "L"

 Técnica de Costura Contemporânea com "L"

Entre as técnicas mais usadas para costurar os cadernos de um livro, uso principalmente duas.

Costura a Fio

Para aqueles livros mais antigos, para ser fiel ao método de costura original. Prefiro não aplicar esta técnica em livros com o papel muito fragilizado ou em livros muito grandes ou grossos. É muito invasiva, pois o fio penetra muito na dobra dos cadernos. É mais frágil, pois o fio desfiado colado à capa oferece poucos pontos de fixação ao papelão. Uso raramente esta técnica.

Costura com Cadarço

Ao invés de um fio costurado ao longo dos cadernos, usa-se uma tira de tecido de largura e espessura proporcional ao tamanho e peso do livro, o "Cadarço".

Para manter o cadarço na posição para ser costurado, uso uma ferramenta que chamo de "L", por razão óbvia. É apenas uma lâmina de latão dobrada, com os lados suavizados para não romper o fio da costura quando for retirado.

Apesar de ser uma técnica relativamente contemporânea, não vi nenhum outro encadernador usar desta técnica de costura abertamente. Sem dúvida é uma técnica quase comercial.  

É boa técnica para qualquer tipo de livro. Grande ou pequeno, antigo ou novo.

Permite boa abertura do livro e mantém os cadernos unidos e bem apoiados nas capas.


1 - Três etapas da costura com o "L"


2 - Detalhe das três etapas da costura com "L".

Materiais: agulha sem ponta (um arame de guarda-chuva!), fio,

 cera de abelha e o "L" visto de lado


3 - outro ângulo das três etapas de costura com uso de "L"



4 - Detalhe da costura simples cruzada.

É essencial marcar e serrar os pontos de costura.


5 - Detalhe do "L"



6 - Detalhe da costura com uso de freio.

Chamo de "freio" este fio preso entre o primeiro e o segundo caderno e que acompanha a costura, reforçando as extremidades.





8 de jan. de 2022

Livro de Nascimento de 1944 - Da Fabricação aos Dias Atuais

 Relatório "O LIVRO A-3"

Da Fabricação aos Dias Atuais

Este livro foi fabricado por volta de 1940, Feito em papel CORU BOND, da incipiente e atrasada indústria brasileira de papel, por uma fábrica no Vale do Paraíba por um certo Dr. Cícero Prado, jovem advogado recém formado que em 1911 compra a Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba, São Paulo. Conto sobre isso neste blog: http://cuidardolivro.blogspot.com/2012/11/coru-bond.html

Devido a grande quantidade da palha de casca de arroz disponível o Dr. Cícero Prado compra máquinas usadas de uma indústria da Alemanha e funda uma fábrica de papelão em 1927, produzindo de 400 à 500 quilos por dia. A partir daí, mais quatro máquinas foram instaladas, produzindo cartolina de várias qualidades, papel tipo Kraft, papel pergaminho em vários padrões, papel fosco, papel impermeável, além do célebre produto "Coru-Bond".

Cada uma das folhas deste livro apresenta a MARCA D’ÁGUA, ainda visível se olhado contra a luz, com um escudo: Um vale com o rio Paraíba cercado de montanhas e a inscrição "Ind. Bras. Coru-Bond".

Com a matéria prima casca de arroz, o resultado é uma fibra muito curta e a cola usada na massa era altamente volátil. O resultado é evaporação em curto prazo e muita oxidação, daí a razão para que um livro feito a partir desse material esteja tão escuro, quebradiço e ressecado apesar de ser de 1940. Isso ocorre principalmente em livros da região de São Paulo. Tenho trabalhado em livros de 1900, com papéis ingleses, italianos e mesmo papéis feitos no Brasil na mesma época, como o Westerpost , em estado de elasticidade ainda aceitável e com pouca oxidação.

Segundo me foi relatado, este livro passou por duas enchentes, apresentando como prova marcas de barro nas laterais e a tinta do texto bastante diluída.

Oferecido para "restauração" pelo Cartório da cidade de Pedro Osório-RS, em 25 de Novembro de 2021, com trezentas folhas no formato 40,2 cm por 27,0 cm, tinha TODAS as folhas soltas e apenas vestígio da contracapa.

Todas as folhas estavam com os cadernos desfeitos e as folhas separadas. 100% das folhas apresentavam mutilação em todos os graus. Cerca de 70% das folhas faltando partes essenciais, sem fragmentos disponíveis para recomposição, com grande perda de material nas quatro margens. Outras 20% com as laterais rasgadas e enroladas. Cerca dos 10% restantes ainda intactas mas apresentando rasgados e fissuras nas laterais e partidas no meio. Todas sofreram interferência em algum grau.

Para reparo do livro, visando cessar a perda de fragmentos, proteger o material restante e permitir o manuseio cotidiano, SEM COBRIR O TEXTO, foram utilizados diversos materiais como:

- sulfite 65 gramas para laterais e áreas extensas sem texto;

- papel vegetal (manteiga) 45 gramas para as laterais com texto, para as laterais em geral e para re-unir as folhas;

- papel de seda e papel de arroz em ambos os lados de rasgados com texto;

- papel sulfite 120 gramas para um caderno em branco no começo e outro no fim do livro.

Com esta finalidade e com estes materiais as folhas foram reparadas, depois unidas para formar cadernos de dez folhas cada novamente e estes cadernos costurados, resultando no MIOLO do livro acabado. Em seguida, feita a capa com acabamento em couro fino que permite abertura suave e tela de tecido marmorizado. Fiz uma caixa sob medida para proteger o livro da umidade e da poeira, mantendo suas folhas mais unidas.

É importante considerar que este é um LIVRO MUITO FRÁGIL.

 As folhas permanecem quebradiças e não resistem ao manuseio descuidado.

Não faça pressão sobre as folhas. Até escrever nelas pode partir e rasgar.

Não folheie segurando pelas pontas. Escolha a folha desejada e abra sem segurar as folhas.

Curitiba, 8 de Janeiro de 2022.

Pedro Malanski