7 de ago. de 2011

Restauração e Recuperação

Por interesse particular, sempre gostei de salvar velhos móveis, pois eram feitos com técnicas hoje desprezadas pela indústria e com materiais nobres. Cadeiras eram minhas preferidas. Para obter o resultado ideal, procurava sempre respeitar as características originais do móvel. Se o acabamento era em verniz brilhante, não importava a moda do momento preferir acabamento fosco. O restauro tinha por objetivo conservar.

Em móveis, talvez em automóveis ou em estátuas de uma igreja, o restauro é inteiramente possível. Dá um pouco de trabalho ir atrás de vernizes, madeiras semelhantes, peças de motor ou itens de acabamento, mas não é muito caro nem irrealizável. Aliás, cristaleiras, carros e santos são mais duráveis e feitos de materiais ainda abundantes.

Com livro, o problema é muito maior. O papel é muito frágil, mesmo aqueles pré-industriais. Além disso, raramente um papel é igual a outro, mesmo fabricados em idênticas condições a partir da mesma matéria prima.  A costura da encadernação, com o tempo, fere as folhas. As colas ressecam e cedem. O couro resseca e esfarela. A douração desaparece. Como restaurar, ou seja, recuperar todas as características originais de um livro, seja na costura, nos tipos de papel, no couro e no acabamento? É um processo proibitivamente caro, reservado a pouquíssimas obras de grande valor que, mesma magistralmente restauradas, perdem valor no final do processo, pois uma das principais qualidades de um livro raro é ter resistido e aparentar a passagem do tempo sobre ele.

Soubessem da dificuldade de encontrar um legítimo couro português, obtido a partir de uma cabra, com a espessura e a textura exata, não falariam em restaurar. Já vi desmontarem livros de menor valor para usar em outro. Sem falar em obter o mesmo tipo para douração e os ferros de relevo.

De qualquer forma, salvo minha ignorância, restaurar inteiramente um livro, na inteira acepção da palavra, deixando-o igual ao dia em que veio ao mundo, não é realizável.

Assim, é preciso encarar que é possível consertar um livro destruído e sobre ele colocar uma capa que dialogue com o tempo em que foi feito e com seu conteúdo, mas não é razoável restaurar completamente, mesmo que os recursos financeiros, técnicos e logísticos sejam abundantes. Uma “obra restaurada” apresenta marcas de interferência, materiais discrepantes e detalhes que denunciam não ser um objeto original.


Se há livros raros e antigos que precisam estar expostos para fruição da Sociedade em Museus, há livros raros e antigos que precisam ser seguidamente consultados, pois ainda têm valor como documento. Estes livros precisam receber tratamento que respeite sua integridade e lhes confira solidez, nestes casos sendo indicado procedimentos de RECUPERAÇÃO do livro.

O processo de recuperação aceita que se interfira com materiais contemporâneos nesses livros antigos, pois tem por finalidade proceder os consertos de folhas rasgadas, sanfonados, devoradas, com muitos fragmentos perdidos. A capa deve ser firme, fina e leve, com papelão de alta densidade. Por exemplo, com uso de papel de arroz, colas atuais de acidez neutra, uso de couros, tecidos e materiais sintéticos no acabamento.



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