13 de set. de 2010

Uma folha e sete erros


Uma única folha de um livro oficial foi vítima de, no mínimo, sete erros graves.
Cada ato humano praticado sobre essa folha, reduzindo-a a este estado lamentável, tem como explicação o pouco caso com um documento público, a ausência de técnicas de encadernação e o despreparo das pessoas que manusearam o livro desde 1934.
Este livro, iniciado em 1934, sendo feito com papel inglês de excelente qualidade, de folhas finas e resistentes. Sofreu pelo menos uma interferência de re-encadernação, em data incerta, talvez início dos anos 70, provavelmente, pelas oficinas do SENAI em Curitiba, por etiquetas que encontrei em alguns outros.
Outros erros poderiam ser acrescentados.
Por exemplo, todas as marcas do livro original, como etiquetas e dourações,  não foram conservadas.
Outro erro: os livros foram recosturados sem restauro das folhas. Assim, a cola (cola vermelha feita para fazer blocos!) usada na lombada da nova encadernação penetrou profundamente nos rasgões, tornando a abertura do livro forçada e ainda mais difícil desmontar o livro para fazer o trabalho corretamente.
Por incrível que pareça, ainda há outros erros, mas vamos combinar focar atenção só nessa folha.
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1 - Fita plástica auto-colante (durex)
De forma muito tosca e canhestra, grudaram fita adesiva para prevenir que a dobra na folha se tornasse um rasgão. O resultado é a oxidação da área atingida e a destruição da fibra do papel.
O detalhe é que a fita adesiva já estava se soltando e não está mais ali. Se fosse recente, não poderia ser retirada sem danificar o papel e levar junto o texto. No médio prazo, qualquer fita adesiva perde aderência e se despreende do papel,  deixando uma matéria oleosa sobre o papel.
2 - Esta folha foi colada diretamente na folha de guarda - que é a folha dupla que fica presa à capa do livro - cujos restos mais brancos ainda são visíveis. A cola avançou quase dois centímetros sobre o papel. Assim, essa folha ficou presa , acompanhando o movimento da capa, que foi o que realmente causou a grande dobra atravessando a folha de alta a baixo (2.a).
3 - Dobras resultantes do manuseio do livro, selecionando folhas pelo canto inferior. É também causado pelo item anterior.
4 - O uso de tinta vermelha para colorir a lateral das folhas é uma prática iniciada por monges medievais que buscavam o efeito de imitar o "sangue dos mártires". Aqui foi usada tinta comum em excesso, na tentativa de disfarçar os dentes da guilhotina, tendo penetrado fundo na folhas.
5 - O livro foi GUILHOTINADO nos três lados, pois as laterais estavam puídas e sujas pelo manuseio e não foram devidamente restauradas. Portanto foram simplesmente cortadas. O livro ficou torto, com diferença de 0,4 mm no lado esquerdo e de 0,06 mm na parte de baixo. Além disso, a retirada de cerca de um centímetro em cada corte deixou o texto de algumas folhas perigosamente próximo do final da folha e em alguns casos, o texto foi cortado pela guilhotina. Em museologia, isso é mutilação.

Na boa técnica de encadernação clássica, UM LIVRO JAMAIS DEVE SER REFILADO.
6 - Por via das dúvidas, o anterior encadernador escreveu com tinta esferográfica, em letras enormes, o número do livro. Desnecessário, infantil e interferência injustificável num documento público.
7 - A folha de guarda que estava sobre essa, era composta de uma grossa folha de papel barato, semelhante aos antigos papéis de embrulho. Sem nenhuma tinta de marmorização que a protegesse deste papel inferior e mesmo da cola que uniu a folha de guarda à capa, a nossa pobre folha foi atacada pela elevada ACIDEZ do papel e da cola, ficando com essa coloração marron escura em toda sua área. Outra consequência da acidez é o ressecamento da folha, muito adiantado, mesmo considerando sua idade.
Tivesse usado papel de boa qualidade e marmorizado para a folha de guarda
usando ainda pelo menos duas folhas em branco em seguida, a folha oficial estaria protegida e duraria muito mais.
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Espero que esse artigo sirva para mostrar o que não se deve fazer. 
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O mais grave é que todos os livros do acervo foram trabalhados pelo mesmo método e apresentam deterioração até maior do que esse exemplo.
Adiante, prova de guilhotinagem:

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